quarta-feira, 9 de junho de 2021

TUDO POR AMOR - Prévia de um monólogo.

Descobri finalmente o tema do monólogo ou da conversa comigo que venho tentando elaborar há muito tempo e pensar, que sempre esteve presente em minha mente como uma chaga doída com a qual, fui aprendendo a conviver, mas que jamais consegui curar completamente, dando-me a sensação permanente de vazio por não ter encontrado ao longo dos últimos 56 anos, um remédio que fosse capaz de curar esta ferida exposta que se não me matou, com certeza me fez perder muitos rumos pela dor que sempre causou.


Dor sufocada, engambelada, disfarçada de mil formas, que era capaz de convencer ao mundo, mas não a mim que me sentia destroçada, violada no meu mais sagrado direito de escolher a quem amar e sem poder sequer gritar a minha dor, esfregando na alma da minha inquisidora o mal que me causara ou nos causara, pois o estrago não se limitou a mim e sim rachou a inocência de dois adolescentes absurdamente apaixonados que só desejavam ficar juntos e escrever uma história de amor aos moldes dos dourados anos sessenta, onde o romantismo e o colorido dos contos ainda meio que infantis ditavam as condutas das ainda crianças frente ao descortinar de infinitas sensações que se faziam presentes num apenas beijo, toque de mãos, aromas de pele e no meu caso em especial, pelos belíssimos olhos azuis que iluminavam a minha mente de garota sonhadora.

Como perdoar minha mãe?

Nunca, jamais consegui, pois, ao olhá-la só enxergava a minha carrasca que por mais que argumentasse que havia agido por amor, não me convencia e mais e mais eu a odiava, apesar de muito amá-la.

Que direito tem, mesmo sendo um pai ou uma mãe de desviar os rumos da vida de um filho?

Por acaso a maternidade dava a minha mãe os poderes de um guru, uma adivinhadora ou mesmo de um Deus, para saber com precisão o que seria o melhor para mim?

Egoista, egocêntrica, perfeccionista...

 Tudo foi por ela reduzido as mentiras e nada foi por amor a mim, mas tão somente, como uma garantia a sua consciência de que estaria me encaminhando para rumos mais seguros, segundo seus padrões.

E por acaso eu queria segurança, garantia de futuro com apenas 15 aninhos em plena descoberta das incríveis sensações que  meus hormônios produziam, e que me faziam muito feliz, flutuando na íris dos olhos azuis do paulistinha grandalhão, ruivo e docemente encantador?

Impossível, mesmo hoje tantas décadas depois, relatar com exatidão toda a dor, toda a sensação de impotência, tanto desarvoramento que a estupidez amorosa de minha mãe provocou na minha essência de poeta que até então, aprendera nos mínimos detalhes a captar a naturalidade de tudo que significava vida.

Esta estupidez amorosa foi responsável por anos e anos de desequilíbrio, provocando em mim, surtos gigantescos de insegurança e levando-me a suportar o inimaginável pelo simples e doloroso medo de me sentir solta ao vento.

Resgatar minha autoestima, reconhecer-me, desenterrar a originalidade que nem mesmo eu sabia ter sido salva por algum mecanismo mental, foi e tem sido e creio que será até o fim de meus dias, a tarefa mais dura e ao mesmo tempo fantástica que empreendi como minha prioridade.

Jamais voltei a permitir que minha capacidade amorosa seguisse padrões alheios e amar, fosse lá ao que fosse passou a ter as minhas características, meu crivo pessoal avaliativo e jamais voltei a acreditar no aparente acaso.

As vezes pensei que poderia não ter dado certo em algum momento todo aquele tórrido amor, afinal, vivíamos em cidades distantes, e teríamos um mundo de realidades novas que surgiriam no decorrer da passagem de adolescentes para adultos.

Mas e daí?

 Se isto acontecesse, teria sido apenas resultado das circunstâncias absolutamente naturais de dois lindos jovens desbravando o mundo e não ação de um pesado machado gravado em seu cabo, “amor de mãe”.

Um certo dia, bem antes do esperado, mas previsto por ela, a devotada mãe se foi e me deixou ainda adolescente, confusa e perdida, sem chão e sem sonhos, precisando pisar descalça, fazendo os pés sangrarem por sobre as muitas pedras espalhadas grosseiramente pelo caminho e que ela não previu, tão ocupada estava em podar o meu grande amor.

E pensar que eu não queria nada além dos beijos doces do meu paulistinha e do prazer de me imaginar voando no céu azulado de seus belos olhos.

Meu príncipe dos contos de fadas que encontrei em carne e osso na fila do Cristo Redentor, bastando apenas um rápido olhar para que a mágica se apresentasse, na forma de um delicioso e puríssimo amor que o pragmatismo de uma mãe, destruísse.

Não era para ser, talvez, não sei...

Pois tudo que sei é que nunca mais amei igual...

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