quinta-feira, 24 de junho de 2021

MILAGRE DE SÃO JOÃO...

Desde ontem à noite, enquanto escutava Claude Debussy comecei a sentir que algo novo ocorria em minha mente, levando-me a uma introspecção conscientizadora da minha condição real de criatura humana.


Fui dormir fora dos padrões de meu sempre rigoroso horário, não que eu não quisesse, mas porque uma infinidade de flashes de memória pululava em minha mente, trazendo-me lembranças dos muitos momentos em que verdadeiramente me senti só, das lágrimas que deixei rolar as escondidas e dos sorrisos disfarçantes que ostentei, tudo para mostrar uma fortaleza que verdadeiramente eu não possuía.

Para quê?

Por quê?

Certamente para não deixar cair por terra o estigma de grande e forte mulher, tão exaltado e admirado e tão dolorido para mim, que só almejava ser uma simples mulher.

Infinitas foram as vezes em que desejei simplesmente desistir, saindo sem destino, apenas para respirar eu mesma, me apalpando, me amando, me sentindo.

Então, fiz dos versos o meu caminho de fuga e da natureza, meu contínuo elixir de reabastecimento existencial.

Quantas bobagens arrebanhamos para as nossas vidas...

Quantas tolices inúteis, abraçamos como imprescindíveis...

Quantos eu te amo, se perdem no vazio...

E pensar que quando nossas vidas se findam, nada mais resta, além do provável esquecimento.

Concluo que ontem a noite, sepultei finalmente a suposta grande mulher e estou deixando aflorar a cada instante, tão somente, eu, a mulher.

Que bom...  

Milagre de São João, porque não?

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