Ainda me lembro, mesmo tendo já se passado sessenta anos, quando sem pensar, sentei-me na minúscula escrivaninha de meu quarto da Rua Barão da Torre em Ipanema e escrevi o meu primeiro texto para admiração de minha mãe, pra quem corri para mostrar enfeitiçada com o meu feito.
Hoje, apalpando e cheirando meu vigésimo segundo livro, onde mais uma vez relatei minha percepção de vida, senti a mesma emoção genuína de alegria e completude.
Como eu pude escrever tanto? Aonde armazeno e como distribuo através de palavras, todas as informações e impressões que parecem, nunca terem fim?
Como é possível para uma simples mulher, quieta por essência, conter em si, tantas emoções?
E mais, buscar num cotidiano aparentemente medíocre, sensações em forma de contínuo sol, que a tudo aquece e ilumina.
Como posso ter tanto para escrever, sobre mim e meus sentimentos, tendo tão poucos subsídios empíricos?
Mas será que realmente são poucos ou explorei por todo o tempo meus sentidos numa busca periférica e os trouxe para o meu eu, trabalhando em ambos, numa extrema curiosidade em conhecer-me profundamente, relacionando minhas ações e reações com o tudo mais?
Perguntas e mais perguntas que geram pesquisas e estas, emoções e textos, numa profusão que não me assustou jamais, mas com certeza, absorveu-me tanto e por todo o meu tempo, que não me deu tempo para amargar fosse lá o que fosse que, minha mente ou minha alma, não fossem capazes de superarem.
Em um dos meus livros, acho que foi em Equilíbrio, Razão e Amor, escrito há muitos e muitos anos passados, afirmei convicta de que a maior tarefa de um ser humano era ser garimpeiro e ourives de si mesmo, explicando em detalhes os caminhos e os insumos necessários para o interminável ministério pessoal de amor e reconhecimento, assim, como narrei também em detalhes, as pepitas de peso e cujo valor é incalculável das benécias de tal garimpo.
Somos como rios largos, profundos e caudalosos, repletos de ricos nutrientes, palpáveis ou apenas sentidos, precisando apenas nos tornarmos garimpeiro amorosos e persistente e em seguida, em ourives apaixonados, capazes de polir e moldar a joia rara de cada emoção , de cada sentimento de cada desejo, que fomos capazes de extrair do precioso rio, que afinal, somos nós.
O garimpeiro precisa ter fé para encontrar as suas pepitas e o ourives talento e perseverança para polir e moldar a sua joia.
Nesta tarefa bendita, não há lugar para o preguiçoso e inerte.
Este é um processo que ninguém ensina através de cartilhas e sim, através do reconhecimento da vida pululando em si e nada melhor que a infância, se sentir frente as contínuas descobertas, afinal, tudo é novo e surpreendente, bastando um alguém amoroso para direciona-la ao belo e ao feio, o adequado ou não ao seu bem estar, correlacionando-os a ela, fazendo da vida um espelho, onde ela possa se enxergar e ao mesmo tempo, se sentir, observando os efeitos de cada emoção que as “coisas da vida” vão lhe oferecendo.
E de repente seus insumos mentais começam a naturalmente a trabalharem, talhando delicadamente aqui e ali, dando forma e sentido as suas afinidades.
Mas é preciso não esquecer que as diferenças quanto a compreensão, existem e são absurdamente reais e nem sempre, o garimpeiro segue firme aplicando tudo que a vida teimosa insiste em lhe mostrar, e como um impaciente, louco apressado, busca no rio alheio, as pepitas que são antes de tudo, as margens seguras de si mesmo.
Viver garimpando e ourivando, não são tarefas fáceis, mas quando e onde, foi afirmado que viver seria fácil?
E aí, infelizmente para alguns a vida perde o sentido, o rio seca e a joia deixa de existir.
Simples assim.?.
Não, simples é pegar sem medo a peneira, adentar no rio de nós mesmos, na busca incessante de vida e liberdade, joia preciosa, que afinal, nos justifica...
Uma linda tarde de garimpos e ourivesarias pessoais...
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