sábado, 8 de abril de 2023

INSTRUMENTISTA DE MIM MESMA...

Neste amanhecer de sábado de Aleluia, percebo, confesso que meio assustada, que desde muito cedinho, antes mesmo de clarear, ouvindo os acordes da Quinta Sinfonia de Beethoven com suas modulações firmes, que a mesma faz acompanhamento adequado ao meu estado mental que, diferentemente do habitual, compassei-a com os graves da melodia, ora apressados, ora suaves, num permanente subir e descer de intensidade, numa agitação de quem precisa agir de imediato, não para surpreender a plateia, mas a mim,  através de uma nova performance

De repente, as cordas dos violinos, se deixam alisar pelas compassadas e agitadas traves, soltando seus ais de um talvez, profundo cansaço, reforçado pelos instrumentos de sopro que interveem, numa confirmação da seriedade dos propósitos, abrindo espaço novamente para que os  genuínos e delicados violinos internos do miolo da orquestra, generosos, abram espaço para um novo acorde, onde as trombetas do emocional do compositor, despertem esta senhorinha que da vida quer mais, muito mais, justo, por não deixar de observar, cada instrumento de sua própria orquestra.


Por que pensar nos “Judas” de minha orquestra? Será que os tive a rondar e abafar o meu som ou ao contrário, eu na inconsequência de querer tocar em meio a uma orquestra que cri ser a ideal, esqueci de oferecer potência aos meus sagrados movimentos musicais?

Não serei eu, Judas de mim mesma?

Sabotadora da liberdade que sempre existiu em mim, acomodando-me a ser tão somente, mais um instrumento sob a batuta de um maestro, fugindo do protagonismo de meu próprio som?

Punir-me, jamais...

Prefiro mergulhar em mim, no mar revolto dos compassos de Beethoven de olhos abertos, para enxergar as profundezas nebulosas que ainda existem, ouvindo com generosidade cada nota repetitiva e pelas muitas perdidas notas que privei-me na maior parte do meu existir, cedendo covardemente ao medo da assustadora solidão do protagonismo e de precisar tocar em praça pública para uma plateia itinerante, na incompreensão de que era o único caminho sempre livre para as infinitas opções.

Não malho à Judas de Jesus e muito menos aos meus, afinal, compreendo amorosamente que sem eles, provavelmente, os acordes poderiam ter sidos menos doloridos e mais amenos, mas provavelmente, eu não teria observado tantos incríveis acordes de aprendizados.

E como a cortina ainda não se fechou neste palco onde represento dia após dia, cá estou, ajustando as luzes e o som, restaurando meu figurino, afinando as teclas de meu piano, mas acima de tudo, atualizando os arranjos musicais, para que eu melhor me sinta a partir do show de hoje, mais aperfeiçoada instrumentista de mim mesma...

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