Ontem, adormeci com profunda saudade dos meus pais e do meu Rio de Janeiro, onde fui capaz de vivenciar o melhor que eles puderam me ofertar em minha infância e adolescência, portanto, antes de me deitar, coloquei de molho feijão preto e a carne seca, já pensando que depois de escrever o meu texto, seria a mais importante tarefa a ser cumprida na segunda-feira, quando então, inundaria a casa com os aromas de minha memória afetiva de texturas e sabores de um tempo que se não volta mais, certamente, foi tatuado nos meus sentimentos e emoções.
A rotina era, saltar do ônibus na lagoa Rodrigues de Freitas e caminhar apressada pela Anibal de Mendonça até a Barão da Torre e poder avistar minha mãe com os braços apoiados no portão me esperando como uma águia vigilante, para então, já ir desabotoando a blusa, tirando a gravata, no que ela como um disco arranhado repetia; “menina, você ainda vai passar vergonha com esta sua mania de ir tirando a roupa pelos corredores do prédio”.
Pressa de chegar em casa, pressa para tomar uma chuveirada para tirar a poeira e o suor do corpo, para finalmente, limpinha e cheirosa, saborear seu feijão com arroz, bife e farofa dos Deuses.
A casa era inundada dos aromas do amor e pensando nisso, penso que jamais ouvi de minha mãe um “eu te amo”, bem diferente de meu pai, de quem puxei o temperamento latino apaixonado, todavia, ela na elegância que a caracterizava, era capaz de com gestos e atitudes, fazer com que nos sentíssemos profundamente amados.
Ainda me lembro dos cafunés que recebi todas as noites, até sair de casa pra me casar, das longas conversas todas as tardes, enquanto, lanchávamos na mesa da cozinha, quando então, ela falava de sua infância e contava os causos de filha de portugueses imigrantes e das peraltices com seus sete irmãos.
Adorava quando ela recordava os muitos encontros às escondidas com meu pai, já que a família dela não aprovava o namoro por rivalidade familiar portuguesa, ainda posso lembrar de seus olhos negros brilhantes, cada vez que relatava os inocentes (assim dizia ela) colóquios amorosos de uma apenas garota, com um já formado homem, na ladeira dos Tabajaras ou até mesmo, entre os mausoléus do cemitério São João Batista, hoje, ele seria considerado um pedófilo.
Delícia, foi testemunhar o amor e dedicação dos meus pais, que com certeza era repleto de aromas e sabores que se impregnaram em mim.
Farei de cada garfada do feijão com farofa, no almoço desta segunda-feira, primeira do mês de julho, uma sucessão de prazeres, absolutamente, inenarráveis, mas que exalam de mim, além da mente, só em neles pensar...
Afinal, preciso de muito pouco para me sentir feliz que até assusta quando, lembro das parafernálias que me impus e que me impediram em algumas ocasiões de apenas, viver...
Um beijinho carioca e safado pra você que me lê.
Regina Carvalho- 01.07.2024 Itaparica
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