Não consegui abrir os olhos, afinal, o cheirinho de pipoca amanteigada serpenteou os obstáculos existentes entre a casa do vizinho e a minha, pulou o muro, esgueirou-se entre as folhagens do canteiro e arrastou-se pelas persianas da janela, só para encontrar as minhas narinas que dormitavam neste amanhecer e, através delas, alcançou o céu da minha boca, depois de salga-la, proporcionando-me um incrível palato.
Imediatamente, pensei; rapaz, quem come pipoca amanteigada as cinco da manhã?
Terá sido apenas um sonho que acordei sonhando?
Tudo parecia ainda tão quieto...
Agora contando para vocês este inusitado despertar, penso com absoluta certeza, tratar-se de memória olfativa de uma infância que jamais me abandonou, ficando quietinha em meu subconsciente, sempre pronta a surpreender-me, trazendo sensações simplesmente inesquecíveis, mas também sempre pré-existentes no tudo que faço, sinto ou penso, seja esclarecendo, guiando ou simplesmente inspirando.
Benditos sentidos, que quando despertados em minha infância, jamais me abandoaram...
Estimuladores incríveis que transformaram os olhares, os toques e os beijos que troquei nesta minha longa vida em portas de entrada de um tudo de bom, repleto de prazeres, levando-me a finalmente compreender que não é sem razões palpáveis que também passei a vida escrevendo, buscando e arduamente tentando implantar na educação infantil, o bendito sensorial, caminho único de se descobrir existente, parte sensível e pertencente a este complexo mundo de meu Deus...
Bom dia, pra você que me lê, com o sabor gostoso do prazer...
Regina Carvalho- 23.07.2024 Itaparica
Nenhum comentário:
Postar um comentário