E AÍ, empurrando com a preguiça e com a mais profunda inércia, sentada no sofá vendo TV, mais um domingo entediante, algo incrível aconteceu...
De repente, depois de assistir banalmente a algumas desgraças cotidianas que oferecem ibope para as emissoras, fui tomada por uma sensação maravilhosa de gratidão, afinal, jamais vivenciei sequer pela proximidade a qualquer desgraceira assistida, não daquele domingo, mas vida afora, despertando em mim, a bendita conscientização de que tudo que vivenciei foram carícias ou palmadas da vida e que de forma alienada e até ingrata, deixei passar.
Por todo o tempo mostrei-me forte e resistente, achando-me a mais foda das criaturas, quando na realidade, agi mecanicamente sem qualquer noção consciente da importância dos ganhos e das perdas, inclusive, dizendo-me cansada e criando uma resistência salvadora e deixando aparecer, apenas um molambo de ser humano, sem qualquer aplicação consistente da autêntica visão que percebi ser míope, em relação a própria existência.
Uns constroem prédios, outros salvam pessoas, mas e eu?
Aplico em mim, tudo que escrevo, penso e avalio?
E se aplico, sou capaz de reconhecer?
O que fiz com os milhares de pequenos conhecimentos que busquei e encontrei, apenas, circulando no cotidiano, se sequer fui capaz de transformá-los em tijolos ou bisturis, numa reconstrução pessoal?
Por que vejo, mas ainda tenho medo de enxergar?
Por que sinto, mas evito admitir?
Por que toco e ainda assim, tenho medo de abraçar?
Será que apenas eu, finjo que estou vivendo, acreditando que a vida é assim, e que nada serei capaz de acrescentar a ela, além de sorrisos amarelados e lágrimas consoladoras?
Viver, precisa ser mais que apenas, existir, fazendo coisas...
Regina Carvalho- 15.07.2024 Itaparica
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