A noite chegou, a chuva se foi, mas o frio permanece numa teimosia que as vezes penso que seja para me expulsar mais rapidamente desta cercania.
Estou ouvindo Michael Buble que aliás, adoro e sempre ouço quando estou assim meio borocoxô, meio sem graça ou sei lá, não chegando a ser tristeza e nem solidão, apenas, uma espécie de vazio existencial, insegurança ou tão somente, um jeito muito meu de repensar o já vivido, o que estou vivendo e no que ainda quero viver.
Este meu medo de avião sempre foi um limitante que ainda não incorporei a uma naturalidade que eu gostaria, afinal, se assim não fosse, provavelmente em muitas ocasiões eu teria voado literalmente para onde o meu coração, assim determinasse.
Agora por exemplo, eu estaria, talvez debruçada na janela de minha casa, sentindo o cheirinho de terra orvalhada e ouvindo os grilos se apossando do jardim, onde triunfariam até o amanhecer ou quem sabe, diante do computador como estou neste exato momento, querendo começar um romance e finalmente, me sentir uma escritora.
Por que não consigo esta proeza, se tanto já dedilhei letras com emoções, alegrias e tristezas, certezas e dúvidas, sonhos e realidades, medos e certezas, ganhos e perdas, amor e desamor.?.
Por que só consegui narrativas, diálogos, poemas e nunca fui capaz de deixar fluir este manancial amoroso e imaginativo que povoa a minha mente dia e noite, sem que eu seja capaz de textualizar em páginas que, certamente levedariam as almas dos leitores, tal qual, levedam a minha?
Por que tudo se resume e se limita em minha mente?
Às vezes, penso que se eu escrevesse um romance, o mesmo nada mais seria que páginas dos retalhos recortados dos já lidos, afinal, ao lê-los, mergulho tão profundamente, que nasci e morri em cada um deles, fui vilãs e mocinhas, princesas e lacaias, assim como fui amor por todo o tempo nas páginas que meus olhos foram capazes de me fazer interagir...
Enquanto, penso e registro esta minha lamentação de sexta a noite, ora sou interrompida, ora me concentro, ora me emociono, ora gostaria de estar em qualquer lugar, apenas inspirada e escrevendo um romance para quem sabe, emocionar você e me tornar imortal, bem ao gosto de uma apaixonada narcisista...
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