Neste estágio de minha vida, a cada instante em comum acordo com minha consciência, volto a despir peça por peça de meu vestuário vivencial e de forma serena, separo todas aquelas que me parecem usadas demais, muitas delas, já não combinando com a Regina que restou de minha essência e que, cuidadosamente, mesmo não me dado conta, fui preservando dos possíveis desgastes, afim de poder tê-las e usá-las, quando a maioria das demais, já não fizessem sentido de existirem em meu guarda- roupa existencial.
Comparo com as “roupas de domingo ou de festas” que minha zelosa mãe me ensinou a aguardar como pepitas de ouro, pois, segundo ela, me serviriam nos momentos cruciais, onde eu precisasse me apresentar com o melhor que dispunha.
Todavia, esta é uma tarefa complicada, pois envolve lembranças e sentimentos múltiplos, muitas vezes de momentos e instantes, aonde fui extremamente feliz ou infeliz e que como uma segunda pele, aderiu e se incorporou, levando-me a constantemente ter que hidratar-me com profunda perseverança amorosa, para que eu não ressecasse e me partisse...
Neste instante, penso que escrevo tanto de minhas alegrias e inquietações, justo, porque não poderia escrever sobre mais ninguém, afinal, só em mim posso adentrar tão profundamente e ser o mais detalhista possível, mesmo crendo que não devo me diferenciar tão marcantemente dos demais a minha volta, já que, não recebemos uma cartilha que pudesse prever minuciosamente, todas as ações e reações, restando a mim e a qualquer outro, a salvação das “roupas de domingo e das festas” para que pudéssemos lançar mão, quando o tudo mais, não mais servisse ou estivesse velho demais para nos vestir da prudente sabedoria no enfrentamento deste variado e difícil, mas espetacular exercício de apenas viver...
Deduzo então, que se cheguei até aqui, sorrindo e amando e ainda, tendo que me desnudar continuamente é porque, minhas “roupas de domingo e das festas”, além de resistentes e bem acondicionadas em varais de sóis de verão, foram de incalculável serventia...
E as suas, como estão?
Sempre cheirando aos sóis de verão ou as terríveis naftalinas, que afastam às traças e a também bendita espontaneidade em poder vesti-las a qualquer momento, sem aviso prévio?
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