Essa foi a mensagem que me veio à mente neste amanhecer de setembro, já quase a despedir-se. As lembranças chegaram de imediato, e nelas, invariavelmente, minhas tias, irmãs de minha mãe, reuniam-se na casa da minha avó Maria para preparar pequenos doces a serem distribuídos no dia de São Cosme e Damião. Eram embrulhados em saquinhos de papel colorido, estampados com a imagem dos santos, e entregues à criançada que, em fila, aguardava no portão, numa alegre barulheira.
Havia cocadas de abóbora e coco, minúsculos bolinhos de sabores variados assados em forminhas de papel que eu simplesmente adorava, maria-mole em pedaços, cajuzinhos de amendoim, pés de moleque, balinhas diversas e tantas outras delícias. Por isso, estranhei quando, na Bahia, conheci a tradição do Caruru, onde o foco não estava nas crianças. Mas compreendi: cada lugar guarda e cultua as suas tradições.
Setembro, na minha memória, não tinha cor. Ninguém falava em suicídio. Aliás, nem se pensava nisso. Assim como não se falava em câncer, tabus mantidos pelo silêncio e pela ignorância.
Os tempos mudaram e as mentes se abriram. Mas ainda hoje, infelizmente, o desconhecimento, alimentado por preconceitos, persiste como uma gosma grudenta na mente de muitos.
Nas minhas pesquisas, encontrei índices alarmantes: Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Mato Grosso do Sul apresentam as maiores taxas históricas de suicídio. No polo oposto estão Pará, Bahia e Maranhão.
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública 2024 revelou um aumento assustador nas ocorrências de suicídio, especialmente em São Paulo (+80%) e no Rio de Janeiro (+116,7%), segundo dados das polícias civil e militar. A situação torna-se ainda mais grave entre policiais militares: em estados como Acre, Amapá, Ceará, Mato Grosso, Minas Gerais, Espírito Santo, Paraná, Rio de Janeiro, São Paulo, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, em 2023, houve mais mortes por suicídio do que em conflitos durante o serviço ou no descanso.
Como humanista apaixonada pela vida, penso: é preciso ir além das ações pontuais do setembro amarelo. É urgente que o compromisso se estenda aos outros onze meses do ano, começando pela educação infantil. É ali que se pode plantar o autoconhecimento, valorizando corpo e mente, despertando em cada criança a consciência da sua importância e da necessidade de preservação pessoal.
Amar-se é um exercício. Estimular o respeito por si mesmo é também garantir o respeito por tudo o que possui vida. O amor próprio, sustentado pelo reconhecimento dos próprios limites, torna-se uma forma de autopreservação.
Implantar novos conceitos existenciais é um desafio monumental, mas o primeiro passo é inadiável. E ele começa nas “folhas em branco” das mentes infantis. Afinal, não dá para esperar mais um pouco...
Regina Carvalho – 26/09/2025, Tubarão SC
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