Sempre me encantei pelo adágio, essa composição musical que caminha devagar, mas não arrasta; que se demora sem nunca perder a suavidade. Descobri mais tarde que significava apenas um andamento lento, mas, para mim, sempre foi mais que isso: um convite ao silêncio, ao tempo alargado, ao respirar com calma.
Não sabia nada disso, confesso. Mas a curiosidade empurra-nos para o conhecimento como o vento empurra o barco. Assim fui crescendo, sem pressa, sem ruídos, ampliando horizontes. Fui deixando de ser a “bolhinha,” apelido que me magoava e que o meu Roberto me deu, porque julgava que eu vivia no mundo da lua, a pensar e a escrever apenas sobre pássaros e borboletas, quando na realidade, observava.
Mas eu aprendi cedo que o silêncio também é resposta. Em vez de reagir, escolhi crescer em silêncio. Fiz da minha curiosidade disciplina. Fiz da paciência um método. E, pouco a pouco, os meus escritos foram dissolvendo rótulos, revertendo julgamentos, provando que a suavidade também tem força.
Hoje penso que sei muito pouco e ainda bem. Pois quanto mais mergulho, mais percebo a vastidão do rio. O conhecimento não é um ponto de chegada, é um oceano sem margens.
Como compreender a essência da vida se lhe impusermos barreiras? A curiosidade é chama, mas precisa da prudência para não se apagar nem incendiar o mundo.
Aprendi que desvendar a vida exige calma, paciência e humildade. Humildade para aceitar que somos eternos aprendizes diante das infinitas nuances da existência.
Talvez me falte um grande currículo, recheado de títulos e seminários transformados em doutoramentos. Mas hoje, isso já não me incomoda. Prefiro ser uma “bolhinha” numa sociedade mega apressada e rasa, porque descobri que a verdadeira grandeza está em caber no pequeno.
E se a vida é um adágio, sigo o compasso: lenta, suave, firme, mas sem nunca perder a melodia.
Regina Carvalho – 13.9.2025, Tubarão SC.
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Bolhinha e descabelada às cinco da matina.

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