quinta-feira, 4 de setembro de 2025

“Focada em Mim”

São oito horas desta quarta-feira amena. A manhã desperta tranquila, tal como a noite anterior, em que não precisei de mantas ou aquecedores. O clima era tão agradável que fiquei a conversar com uma amiga até quase ao nascer do sol. Fazia tempo que não partilhava uma conversa tão leve, tão solta, tão minha.

Penso então: correr para quê, se agora tenho todo o tempo do mundo?

Recordo os anos em que corri demais. Corri por hábitos, por condicionamento, não por necessidade. E nessa pressa, perdi momentos preciosos: boas conversas, caminhadas serenas, atenção aos filhos, pequenos prazeres que teriam trazido enorme alegria se eu os tivesse vivido com calma.


Mas houve um dia, há exatos 14 anos, em que acordei diferente. Decidi voltar a Universidade aos 60 anos. Uma ousadia, diriam muitos. Para surpresa de todos, envolvi a família neste projeto que exigia mudanças radicais: cinco dias por semana noutra cidade, longe de casa, longe de todos. Pela primeira vez, pensei apenas em mim.

E foi libertador.

Gostei tanto da experiência que a trouxe de “mala e cuia” para o meu quotidiano. Descobri que a prioridade podia e devia ser minha. Sem culpas, sem castigos. Dessa escolha nasceu uma autoestima que não me fechou, mas sim abriu caminhos e libertou também os que estavam ao meu redor.

Afinal, ninguém deixou de viver por causa da minha ausência. Essa foi a grande revelação da minha terceira idade.

Descobri asas que não sabia ter. Além de voar com pássaros e borboletas, aprendi a voar dentro de mim, passeando pelos meus desejos e vontades, entregando-me sem reservas às minhas emoções mais puras.

Chamem-me velhinha afoita, sem juízo ou senso do ridículo. Eu prefiro chamar-me desperta. Desperta de uma longa noite de costumes e pronta para olhar o mundo além das fronteiras que me rodeavam.

O tempo passou, as rotinas mudaram, mas eu segui firme, restaurada, sempre disposta a novos desafios, desde que me façam feliz antes de mais nada.

Hoje, sinto-me mais interessante. Ao menos é assim que me vejo. E só isso já basta.

Simples assim.

Regina Carvalho – 3.9.2025, Tubarão S.C.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

PERFEITA PARCERIA

Na boca o pedaço pequeno de queijo baila entre a língua e o céu da boca, enquanto os olhos fixam a parede de pedra e o corpo repousa sobre o...