Foi bom enquanto durou, assim como tudo numa convivência amorosa. Afinal, até a mais tórrida das emoções acaba com a morte, oferecendo ao que fica a oportunidade de um recomeço. Porém, nem todos compreendem: muitos acreditam que recomeçar é simplesmente estar disponível para uma nova relação, sem antes criar um necessário intervalo. É nesse espaço que a solidão pode tornar-se uma oportunidade preciosa de recolher as partes de si que ficaram pelo caminho.
Dividir espaço, sentimentos e emoções, por mais intensos e proveitosos que tenham sido, absorve sempre uma parte do outro. É preciso resgatá-la para que haja um luto consciente e saudável. Só assim, se um novo amor surgir, ele será verdadeiramente original, criando emoções inéditas, e não uma mera cópia do anterior.
Recolher os pedaços e remontar o quebra-cabeça das próprias emoções deveria ser prioridade em qualquer luto amoroso, seja pela morte ou pelo fim de um relacionamento.
A vida é curta, não há dúvidas. Mas usar essa brevidade com pressa, carência ou insegurança só a encurta ainda mais, gerando insatisfação íntima. Sempre haverá um vazio entre quem você é e o que minimamente necessita.
Estar consigo mesmo não é tarefa fácil. Mas dividir-se sem consciência é ainda pior, pois aumenta a sensação de que nada mudou e de que “a vida é assim mesmo” e isso é conformismo, primo-irmão da solidão a dois.
Ser livre e leve é, antes de tudo, saber quem se é e o que se espera de alguém. E não se surpreenda se, em algum momento, compreender que a sua própria companhia é suficiente e que tudo o que vier depois será apenas um precioso lucro.
Regina Carvalho – 10.9.2025 – Tubarão, S.C.
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