terça-feira, 9 de setembro de 2025

CORPORATIVISMO DO BAGAÇO

Amanheci sem qualquer frase feita na mente, como é de costume. Mal sabia eu que a primeira aparição no Facebook seria do amigo Yulo Cesar, despedindo-se de Itaparica. Como tantos outros entre os quais me incluo, depois de bater em ferro frio, percebe-se que a desistência é, muitas vezes, a única saída.

É profundamente lamentável. 

Idealistas costumam ser pessoas apaixonadas, com enorme senso de pertença, capazes de se adaptar às condições da sua terra, sempre em nome do bem comum e desejosos de aplicar os seus conhecimentos e talentos.


Todavia, as especulações políticas, aliadas à incompreensão de que um cargo público não deve ser exercido a partir do próprio umbigo, afastam e neutralizam qualquer iniciativa de desenvolvimento humano. Arrastam consigo o “lixo externo”, sob a desculpa de agradar ao gosto popular, quando na verdade apenas contemplam os bolsos dos envolvidos e satisfazem parceiros políticos. Na Bahia, é público e notório o cartel da música e do entretenimento, com cachês milionários fatiados entre autoridades,  um escândalo já denunciado em várias esferas midiáticas.

Tudo isso é ainda mais trágico porque poderia ser evitado. A violência estaria muito menor se estas mesmas autoridades estivessem verdadeiramente empenhadas na educação e na formação das crianças e adolescentes, através da inserção das artes e dos desportos.

Mas a pressa do ganho fácil alimenta a exclusão de iniciativas que, por serem éticas, agregadoras e livres da corrupção, acabam eliminadas como se fossem cancros na estrutura governamental.

Estamos vivendo o luxo do lixo. E contra o chorume que a tudo contamina, o artista, o intelectual ou simplesmente o cidadão que enxerga a realidade pouco pode fazer, além de arrumar a bagagem e manter a esperança de que, um dia, as coisas mudem.

Resta-me lamentar pelos jovens qualificados que veem os seus espaços ocupados pela escória importada do “além Bahia de Todos os Santos”. Lamentar o fechamento da Rádio Tupinambá, pelo FITA- festival da cultura local e baiana, pelo 7 de janeiro, incrementado com o resgate da história, através da paixão e lirismo  de François Starita. Lamentar os artistas plásticos que nunca encontram apoio para expor as suas obras. Lamentar os músicos incríveis, vozes nativas e maravilhosas e tudo quanto de real qualidade que já poderia ter transformado o quotidiano e a visão deste povo bonito que é o itaparicano.

“Lamentável não é apenas o que acontece, mas a nossa impotência diante dele.”

E diante de tudo isto, resta apenas dizer: LAMENTÁVEL.

Regina Carvalho – 9.9.2025 Tubarão S.C

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