Estou aqui pensando neste amanhecer menos frio e percebo que não há nada mais terrível, numa sociedade de valores arcaicos e fragilizados, do que ter um líder que constantemente cutuque o que ainda resta da consciência crítica, aquela que, em geral, contraria interesses de grupos e de indivíduos.
Esse tem sido o adubo que, de forma equivocada, vem nutrindo desde sempre o fértil canteiro do nosso Brasil que é um país rico, belo e repleto de possibilidades em cada cidade, por menor que seja. Isso acontece quando o povo escolhe, reiteradamente, reeleger o inapropriado, apenas para prolongar, com garantias constitucionais, por mais quatro anos, a impunidade de líderes que escancaradamente vilipendiam os mais sagrados direitos em todos os níveis e naturalmente os seus interesses pessoais ou pura incapacidade avaliativa. Depois, disfarçam e justificam as suas apropriações indevidas com pequenas obras, financiadas em grande parte por emendas parlamentares: pracinhas, festas estrondosas e outros agrados ao gosto popular. A multidão, distraída, nem se apercebe de que, em termos de qualidade, nada realmente recebe, já que o lixo só se agiganta nos mesmos lugares, os materiais das obras são de terceira categoria e os serviços públicos continuam piorando.
Afinal, quem quer ser comandado por alguém que insiste em fazer o certo, quando a mente e os hábitos históricos rejeitam essa mudança? Quem, com a consciência distorcida, deseja conviver com um insistente cutucador de consciências?
Observem: em todas as ocasiões em que surge alguém disposto a mudar as regras de um jogo marcado e enlameado pela corrupção em todos os níveis, esse alguém é rejeitado com argumentos tão rasos quanto as próprias avaliações que demonstram o grau absurdo da miserabilidade reinante.
E não me refiro apenas à política. É verdade que as ações mais destrutivas e imensas partem de cima, soterrando limites, ética e moral, alterando costumes, destruindo visões e vidas. Basta observar os noticiários, as nossas vizinhanças e, o que é ainda mais assustador, as nossas cidades, que, mesmo pintadas de cores e disfarces, não conseguem esconder as mazelas sórdidas do descaso.
A violência está aí, crescendo e se empoderando na medida em que o senso critico e consequente dignidade se esfacela.
Pensemos nisso se tivermos a coragem de lembrar que quem faz o sistema somos eu e você. E que é com as nossas escolhas e aplausos que promovemos o inadequado, através do que deveria ser um bendito voto.
Regina Carvalho – 16.09.2025, Tubarão S C
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