quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Acordei cedo

...antes do dia clarear, e li um artigo que me tocou fundo por ser uma crítica sensível aos preconceitos que, mesmo disfarçados, continuam a habitar o nosso convívio.

A lucidez do professor José Alberto Siqueira Gomes, apaixonado por Carmen Miranda e pela cultura brasileira, revelou-me que o livre pensar ainda é um ato de coragem.

Enquanto o país se distrai com o eterno “Quem matou Odete Roitman?”, o verdadeiro mistério continua oculto: quem comandava a mais estrondosa Fraude no INSS? 


SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO

Tenho refletido sobre o quanto somos, em regra geral, confusos. Clamamos por ética e moralidade, por segurança e paz, e, ao mesmo tempo, comportamo-nos como hipócritas, pensando e agindo de forma contrária àquilo que tanto recriminamos.

Isso manifesta-se desde os pequenos detalhes das nossas condutas cotidianas até aos atos mais impactantes, que fomentam exatamente o que declaramos estar errado na nossa sociedade, seja no nosso universo pessoal ou no contexto mundial.

Somos mestres em criar argumentos que, aos nossos olhos, justificam os nossos paradoxos, acreditando que não havia alternativa devido a esta ou àquela necessidade. Mais comum ainda é afirmarmos, em alto e bom som, que “a vida é assim” e, se todos fazem, “de que adiantaria eu não fazer"?


 


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

 


CONSTATAÇÕES ÓBVIAS

O tempo surpreende,

com gestos suaves de mestre.

Leva-me a sorrir

não só de alegria,

mas de gratidão.

Mostra-me posturas antigas,

repetidas, cansadas,

que me roubaram a paz.

E ensina: há o que é meu,

e há o que pertence ao outro.

Já não quero mudar o mundo, 

o relógio corre,

e aceito o seu compasso.

Faço as contas

e escolho viver o que resta

com leveza,

colhendo os frutos doces da paz.

O tempo, apressado e sábio,

diz-me que tudo passa:

as dores, os sonhos,

até as minhas verdades.

Senhor do meu estar neste mundo,

ele sussurra:

discordar do tempo é desperdiçá-lo.

E eu sorrio, enfim,

por compreender o óbvio que,

tudo passa, tudo sempre passará.

Incrível!!! Sem mim...

Regina Carvalho- 6.10.2025  Tubarão SC



domingo, 5 de outubro de 2025

SOLAS DOS PÉS

Como de hábito, sempre que me sobra um tempinho nos dias ensolarados, sento-me na espreguiçadeira, deixando o sol aquecer o meu corpo enquanto leio algumas páginas do livro que escrevi e publiquei, onde narro parte das minhas emoções justamente por saber serem muito parecidas com as de outras pessoas. Mas, como são minhas, senti-me mais à vontade e honestamente qualificada para analisá-las.

Esta é a terceira vez que releio este trabalho, tentando encontrar algum exagero ou alguma camuflagem onde eu possa ter disfarçado algum sentimento ou conduta. No entanto, nada encontro além de mim mesma, sem retoques.


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

 


SAUDADES DE MINHA ITAPARICA

Depois que cheguei nesta minha nova morada, já fiz tantas coisas, menos calçar uma sandália e vestir uma roupa leve e fresca como fiz por 23 anos em minha Itaparica, afinal, por aqui, mesmo com o dia ensolarado, o frio se mantem presente, só ignorado por quem é nativo ou já está ambientado, mas pra mim, cruz credo, acho que nunca vou me acostumar.


 


O QUE NÃO SE PODE MODIFICAR

Acordei ouvindo Fred Mercury e dentre as suas músicas, certamente Love Me Like There’s No Tomorrow ( Ama-me como se não houvesse amanhã), já que este é incerto, provavelmente explique o fato das pessoas se surpreenderem quando eu conto sem qualquer constrangimento a minha idade. Se não tomo formol, não faço academias, não ingiro mixes de vitaminas e tão pouco tenho recursos para intervenções estéticas; a explicação, creio esteja na forma em conduzir minhas emoções, já que sempre estive umbilicalmente ligada ao amor, fosse pela vida como um todo ou pelos infindáveis detalhes que esta, apresenta e que sempre me fascinaram, despertado desde sempre em mim, uma deliciosa paixão.


quinta-feira, 2 de outubro de 2025


 

Nem Melhor, Nem Pior- Apenas Diferente

Na fotografia antiga,

corpos dourados na areia de Ipanema,

sorrisos livres, leves,

sem precisar ostentar nada além

do prazer de existir.

Éramos moças de biquíni escondido,

maiô trocado às pressas,

umbigo em rebeldia,

olhares cúmplices entre amigas

e a conspiração silenciosa de uma mãe

à frente do seu tempo.

O mundo gritava “fim dos costumes”,

mas a vida ria no compasso da praia,

no balanço dos passos,

no brilho dos olhos famintos de futuro.

Havia mistério nos panos pequenos,

havia elegância na espera,

um toque roubado,

um beijo sentido,

a chama do romantismo acesa

no silêncio das preliminares.

Hoje tudo é mais rápido,

tudo se mostra,

tudo se consome.

Mas ainda carrego dentro de mim

a doçura daquele primeiro beijo,

a eternidade do primeiro amor,

e a certeza de que o ontem

não passou.

Não é melhor,

não é pior,

é apenas diferente.

 Regina Carvalho- 2.10. 2025 Tubarão SC



quarta-feira, 1 de outubro de 2025

BOROCOXÔ

Numa era de gente feliz e de bem com a vida e com tudo o mais, confessar-se borocoxô é quase um crime, no mínimo uma contravenção.

Que é isso, dona Regina? Logo a senhora, poeta de berço, humanista de coração e resiliente por opção, declarar-se de saco cheio?

Pois é… Acontece de vez em quando, com pessoas longevas como eu, que se esqueceram de morrer ou são teimosas o suficiente para permanecer nesta vida que, se por um lado é simplesmente fantástica, por outro, meu Deus, só mesmo ouvindo a guitarra de Eric Clapton num blues-rock, a fim de espantar os urubus que incansáveis sobrevoam mentes e almas em tentativas contínuas de arrastá-las para suas searas de chorumes existenciais.



 


 

BRASIL – PLANETA DE EXPIAÇÃO

Perdi o sono. Aliás, pensando melhor, já perdi mais noites nos últimos três meses em Tubarão do que nos últimos cinco anos em Itaparica.

Será pela falta dos meus pássaros, do quintal, do cheiro de maresia? Ou pelo farfalhar dos coqueiros que já não ouço mais?

Quem sabe seja a saudade dos arrepios provocados pelas brisas, quando, logo cedinho, eu abria as janelas para saudar um novo dia.

Talvez seja por não mais sentir o cheirinho de terra molhada quando chovia,  já que, por aqui, onde só há pedra e asfalto, os meus sentidos viciados estejam carentes.


terça-feira, 30 de setembro de 2025

 


EM ALGUM LUGAR DO PASSADO

...quase perdi a ingenuidade, mas fui salva por uma força maior, que não se apresentou na época, mas que permaneceu ao meu lado, bem coladinha, protegendo-me dos ataques mais ferozes das camuflagens traiçoeiras, que escondiam as intenções de todo aquele que investia contra mim, sem dó, aproveitando-se do facto de eu estar mais envolvida com os pássaros e as borboletas. Estes nem sempre eram encontrados nos jardins e florestas, mas sim personificados em pessoas que, de imediato, eu percebia precisarem da minha atenção e amor, muito mais do que seguir as rotineiras vielas e avenidas do sistema escravagista.


 


 


Em algum lugar do passado, uma menina chamada Regininha abriu os olhos ao mundo

Trazia no olhar o espanto luminoso de quem descobre a vida como um jardim inacabado, cheio de cores que a deslumbravam e perfumes que lhe embriagavam a mente. Desde cedo aprendeu a nadar contra as marés, não por rebeldia, mas porque o destino a convocava a resistir.

O mar nunca lhe foi simples. As águas, tantas vezes revoltas, exigiam dela força e coragem. E nesse esforço constante foi forjando músculos e espírito, descobrindo que a resistência se aprende na prática de sobreviver. Houve dias em que o cansaço a derrubou como uma onda brutal. Parecia mortal. Mas bastava um instante de silêncio, um papel em branco e a doce alquimia da escrita para que, de súbito, renascesse inteira.


domingo, 28 de setembro de 2025

SUICÍDIO… CHAGA SEM CURA?

Essa foi a mensagem que me veio à mente neste amanhecer de setembro, já quase a despedir-se. As lembranças chegaram de imediato, e nelas, invariavelmente, minhas tias, irmãs de minha mãe, reuniam-se na casa da minha avó Maria para preparar pequenos doces a serem distribuídos no dia de São Cosme e Damião. Eram embrulhados em saquinhos de papel colorido, estampados com a imagem dos santos, e entregues à criançada que, em fila, aguardava no portão, numa alegre barulheira.

Havia cocadas de abóbora e coco, minúsculos bolinhos de sabores variados assados em forminhas de papel que eu simplesmente adorava, maria-mole em pedaços, cajuzinhos de amendoim, pés de moleque, balinhas diversas e tantas outras delícias. Por isso, estranhei quando, na Bahia, conheci a tradição do Caruru, onde o foco não estava nas crianças. Mas compreendi: cada lugar guarda e cultua as suas tradições.


 


Será que eu deveria?

Custei a sair da cama,

o calor dos lençóis me prendia,

mas o hábito me chamou pelo nome

e, como sempre, obedeci.

O café, o iogurte, as torradas,

pequenos rituais de ternura,

que fazem do meu amanhecer

uma alegria escondida em silêncio.

Hoje, o ciúme bateu à porta,

palavra inquieta, sentimento ruidoso,

mesquinho, dizem alguns,

mas tão humano quanto o próprio amor.

Quem nunca o sentiu, mente.

Quem o nega, carrega em dobro.

E eu, confessa,

abraço a fraqueza com poesia.

Porque tudo passa —

até o mais doce dos queijos

derrete na boca e vira memória.

E o tempo, impiedoso,

leva consigo prazeres e perdas,

deixando-me apenas a escrita

como companhia fiel.

Regina Carvalho- 27.9.2025 - Tubarão S.C



quinta-feira, 25 de setembro de 2025

 


PAIXÕES QUE FASCINAM

Raro, mas acontece: as horas passam e eu simplesmente opto por não dormir. Prefiro permanecer acordada, saboreando o fato de estar viva. É nesse instante que confirmo, sem dúvida, a minha paixão pela vida. Afinal, é bom demais sentir-me apaixonada e recusar-me a interromper esse sentir apenas para dormir.

Não perco o sono, apenas o adio. Faço isso para degustar as pequenas delícias que me apaixonam e que, com o tempo, podem transformar-se em amor.

Foto extraída do site A LEITORA CLÁSSICA. 👇


quarta-feira, 24 de setembro de 2025

 


SABOROSO QUINDIM

NOSSA, a cada dia um personagem que me foi referência na juventude está partindo sem dizer adeus e aí, como posso desconsiderar que a fila está andando e que breve minha vez chegara para apanhar o meu bilhete neste trem, portanto, perder meu tempo nesta espera é uma sabotagem com a qual, não compartilho.

Quero mais é me divertir, sorrir e chorar quando sentir vontade, comer e beber tudo que me dá prazer e pensar sem constrangimentos que sou um saboroso quindim da vida pra mim mesma e aí, delicio-me até mesmo, quando carrego no coco e no açúcar.

O tempo urge, o vento sopra, mas a Regininha aproveita sem pensar duas vezes, na delícia de se sentir ainda vivendo.

Regina Carvalho- 24.9.2025 Tubarão S.C



A RELATIVIDADE DO TESÃO

Este resumo não está disponível. Clique aqui para ver a postagem.

BOM DIA com o trecho de uma crônica que li e simplesmente, adorei.

“O tesão é melhor do que o amor porque o amor não correspondido é uma seca, uma dor, um drama de morrer. O tesão, não. Ele contempla com olhos vidrados, mas sai de cena silenciosamente quando perde seu objeto. Sem ressentimentos, não deixa mágoas. Vai, volta, espreita como um felino que ataca um novelo de lã, cansa e retorna à toca. Depois, quando dá vontade, volta a brincar”. Trecho da crônica “O tesão é melhor que o amor”.

 Renato Essenfelder, publicado no jornal “O Estado de S. Paulo”, em 2023. 

Pesquisa Regina Carvalho



terça-feira, 23 de setembro de 2025


 


 

Sucesso Insustentável

O frio regressou ontem à tarde e hoje permanece, ainda que de forma incerta. Busquei então refúgio nas vibrações musicais de Tchaikovsky, compositor russo intimamente associado a célebres balés como O Lago dos Cisnes e O Quebra-Nozes. A música transportou-me para palcos de uma beleza sublime, expressão maior da capacidade criativa do ser humano. Por alguns instantes, consegui esquecer a sucessão de inutilidades que se apresentam na cena social, marcada por atos ilícitos públicos que, mais do que incomodar, adoecem e destroem uma parcela significativa da sociedade brasileira, muitas vezes sem plena consciência das suas consequências imediatas e colaterais.


segunda-feira, 22 de setembro de 2025

CANÇÃO DA PRIMAVERA

Primavera cruza o rio

Cruza o sonho que tu sonhas.

Na cidade adormecida

Primavera vem chegando.

Cata-vento enlouqueceu,

Ficou girando, girando.

Em torno do cata-vento

Dancemos todos em bando.

Dancemos todos, dancemos,

Amadas, Mortos, Amigos,

Dancemos todos até

Não mais saber-se o motivo…

Até que as paineiras tenham

Por sobre os muros florido!

–Mario Quintana

Website por: GrazilFalk - Museu das grandes novidades

Pesquisa Regina Carvalho



MANJAR DOS DEUSES

Entre violinos e piano,

a melodia ergueu-se suave,

era Ave Maria, a canção escolhida

para selar um destino de luz.

Ainda menina, entreguei-me

ao mais doce presente do universo:

um ser paciente, terno,

companheiro de toda uma vida.

Foram cinquenta e dois anos

de amizade, ternura e amor,

sem precisar de adornos,

sem temer tempestades.

O mundo resumia-se em nós,

num abraço que nunca se desfez,

em silêncios compreendidos,

em diferenças transformadas em harmonia.

Hoje, na quinta primavera sem ti,

as lágrimas descem com a saudade,

mas ainda sinto o teu sabor,

mesmo sem poder te tocar.

Fomos manjares dos deuses,

e mesmo que o tempo me roube a tua presença,

bendigo o universo que uniu nossas almas,

para que o amor florescesse eterno.

Regina Carvalho- 22.9.2025 Tubarão  S.C



domingo, 21 de setembro de 2025

GOSTINHO DA PAZ...

Pois é... Imaginem vocês que estou finalmente sem sentir frio nesta deliciosa cidade, que tem de tudo, mas sem a correria e o tumulto geralmente encontrados nas cidades de médio e grande porte. Acordei lépida, sem precisar de tantos agasalhos e cobertas o que, após dois meses, é simplesmente uma delícia.

Lembro então do Rio de Janeiro dos anos sessenta, de uma Ipanema que, mais do que um bairro, era para seus moradores um principado de elegância, beleza e paz.


Ddelícias japonesas

 “A liberdade de viver em paz é sempre uma escolha e como o tudo mais na vida é preciso compreender que haverá um ônus e um bônus, o fundamental é medir-se o custo benefício”. 

Regina Carvalho-  21.9.2025 Tubarão S.C

👇👇👇 Noite na companhia de minha filha tomando uma vodka com maracujá e saboreando delícias japonesas, foi o mesmo que estar em paz.



sábado, 20 de setembro de 2025

ESTRANHA SENSAÇÃO

Nem triste, nem alegre, apenas desiludida com uma humanidade que tentei compreender e com a qual procurei conviver, mas que, incansavelmente, tem me ferido. Não por golpes visíveis, mas pela desatenção a mim e a tudo aquilo que observei com olhos fascinados.

Humanidade leviana, distraída, interesseira, abusada, egocêntrica e intencionalmente mortífera, se eu não estivesse atenta.


sexta-feira, 19 de setembro de 2025

Sobre Tudo

Quem dera pudesse escrever sobre tudo,

mas neste amanhecer de sexta-feira

resta-me apenas a sensação

de já ter dito demais.

Repito gestos, palavras,

como quem atira pedras a um lago

e espera ondas novas, 

mas elas regressam sempre iguais.

Será que disse o suficiente?

Ou cada vez que falei

perdi um detalhe,

exagerei um silêncio?

As palavras cansaram-se de mim,

gastas pelo tempo,

consumidas pelo excesso,

indiferentes ao meu querer.

Que faço eu,

se nada mais sei fazer?

Talvez amanhã,

menos pessimista,

pinte o amor com novas cores

e encontre alguém que as veja.

Talvez na tarde quase primavera

um sopro de paz se espalhe,

talvez Jesus se revele,

ou talvez apenas o pão quente

com requeijão cremoso

me devolva à memória

as buganvílias da Pampulha.

Humm... delícia,

um instante simples

que vale mais

do que todo o cansaço do mundo.

Regina Carvalho- 19.9.2025  Tubarão S.C



quinta-feira, 18 de setembro de 2025

A CHAGA DA INDIFERENÇA

Estou ouvindo Claude Debussy, depois de dois clássicos do cinema norte-americano, e inevitavelmente penso nas milhões de pessoas que sequer sabem do que estou falando, justamente por jamais terem tido acesso.

Da mesma forma, depois que acordei, tomei café com leite e uma tigela de iogurte com granola. Ainda sinto um pequeno vazio no estômago enquanto escrevo. Mas penso: milhões de outras pessoas sequer têm acesso a qualquer um desses alimentos. Seus estômagos, mais que doloridos, estão vazios de esperança. Enquanto eu, basta levantar-me e ir até à cozinha, escolher o que mais me agrada.


quarta-feira, 17 de setembro de 2025

BENDITA PAZ...

Não se encontra nas lojas para ser comprada, nem nos restaurantes e bares, e muito menos nas simbólicas e famosas caminhadas existencialistas que, a princípio, até aliviam as tensões, mas cujos efeitos são superficiais e não corrigem as distorções mais profundas que se encontram enraizadas em nossos âmagos emocionais. Afinal, a serenidade da paz não se enquadra em agendas programadas de viagens, em qualquer local ou no uso de elementos externos a nós mesmos.

Ela exige uma profunda elaboração diária, onde o equilíbrio, a razão e o amor pela vida vão lentamente minando toda e qualquer resistência criada pelos maus hábitos, estes que, ao se estruturarem, chegam a inverter a nossa percepção da realidade. Muitas vezes, mesmo desfrutando do aparente “melhor”, não admitimos a consequência óbvia que sentimos; e, quando o fazemos, arranjamos milhares de argumentos para não dar o primeiro passo libertador. Assim, optamos pela mesmice entediante do vazio constante, da falta de um propósito amoroso e pessoal, que dia após dia nos transforma em infelizes contumazes.


terça-feira, 16 de setembro de 2025

REFLEXO INOPORTUNO

Estou aqui pensando neste amanhecer menos frio e percebo que não há nada mais terrível, numa sociedade de valores arcaicos e fragilizados, do que ter um líder que constantemente cutuque o que ainda resta da consciência crítica, aquela que, em geral, contraria interesses de grupos e de indivíduos.

Esse tem sido o adubo que, de forma equivocada, vem nutrindo desde sempre o fértil canteiro do nosso Brasil que é um país rico, belo e repleto de possibilidades em cada cidade, por menor que seja. Isso acontece quando o povo escolhe, reiteradamente, reeleger o inapropriado, apenas para prolongar, com garantias constitucionais, por mais quatro anos, a impunidade de líderes que escancaradamente vilipendiam os mais sagrados direitos em todos os níveis e naturalmente os seus interesses pessoais ou pura incapacidade avaliativa. Depois, disfarçam e justificam as suas apropriações indevidas com pequenas obras, financiadas em grande parte por emendas parlamentares: pracinhas, festas estrondosas e outros agrados ao gosto popular. A multidão, distraída, nem se apercebe de que, em termos de qualidade, nada realmente recebe, já que o lixo só se agiganta nos mesmos lugares, os materiais das obras são de terceira categoria e os serviços públicos continuam piorando.


segunda-feira, 15 de setembro de 2025

Serração

Faz tempo, aproximadamente trinta e dois anos que eu não apreciava uma serração tão densa, acompanhada de um frio penetrante que parece congelar os ossos. Lembra-me muito dos invernos que vivenciei, durante oito anos seguidos, em Caeté-MG, precisamente aos pés da Serra da Piedade.

Rapaz… a coisa é feia!

Por outro lado, acordar e ter, diante dos olhos, uma natureza tão vibrante, através dos verdes variados das frondosas árvores, é para mim uma verdadeira glória. Algo que me faz esquecer de tudo o mais, inclusive abrindo espaço em minha paciência para que um dos gatos da minha filha insista em passear pelo teclado do notebook, querendo ser notado a qualquer custo.

Penso, então, que nesta vida é preciso estar tão vibrante quanto ela, a própria natureza. É preciso não titubear em senti-la plenamente, trazendo para si o óbvio, aquele que na maioria das vezes, sequer é enxergado. E posso garantir, por experiência própria, que esses detalhes simples são espetaculares: verdadeiras preces que preenchem vazios, estimulam a criatividade e, com certeza, fazem bem à alma. Afinal, ao fazê-la sorrir, sorrimos também.

Bom dia! Que esta segunda-feira seja, tão somente, o início de uma semana incrivelmente bendita.

 Regina Carvalho – 15.9.2025, Pedras Grandes, S.C



domingo, 14 de setembro de 2025

Ó DO BOROGODÓ

O domingo amanheceu, e lá estava ela: a palavra borogodó, tilintando na minha mente. Achei curioso, afinal, trata-se de uma palavra antiga, hoje pouco falada, mas que resume tudo de bom que alguém pode ter, sem maiores explicações. Quem tem borogodó não precisa de atributos estéticos exuberantes para se destacar: atrai atenções de forma natural, roubando a cena em qualquer lugar.

Como boa curiosa, fui pesquisar no “Google” a sua origem. Já sabia tratar-se de uma expressão popular, mas não há consenso sobre a região em que nasceu. A verdade é que a irreverência do povo brasileiro deu à luz a esta e a tantas outras gírias, incorporadas ao nosso jeito exclusivo e malemolente de ser e de falar.


ADÁGIO PESSOAL

Sempre me encantei pelo adágio, essa composição musical que caminha devagar, mas não arrasta; que se demora sem nunca perder a suavidade. Descobri mais tarde que significava apenas um andamento lento, mas, para mim, sempre foi mais que isso: um convite ao silêncio, ao tempo alargado, ao respirar com calma.

Não sabia nada disso, confesso. Mas a curiosidade empurra-nos para o conhecimento como o vento empurra o barco. Assim fui crescendo, sem pressa, sem ruídos, ampliando horizontes. Fui deixando de ser a “bolhinha,” apelido que me magoava e que o meu Roberto me deu, porque julgava que eu vivia no mundo da lua, a pensar e a escrever apenas sobre pássaros e borboletas, quando na realidade, observava.


sexta-feira, 12 de setembro de 2025

MENTES CONDENADAS

Ouço neste instante Franz Liszt, através de um belíssimo solo de piano e inevitavelmente me vem à mente a minha decepção que só vem crescendo na medida que o tempo passa e cada vez mais, preciso medir minhas palavras, afim de não atingir este ou aquele segmento.

Sinto-me colocada num estreito corredor como mais um gado indo para o abatedouro com o único direito de seguir a diante, sem poder de escolha. 

Preciso a cada instante, trocar palavras, contornar ideias, desistir dos ideais e isso é  desesperador, ainda mais, porque não encontro nenhum aliado de luta, já que o cerceamento é geral, restando a liberdade de ser e de pensar, somente à aqueles que mesmo ostentando uma bandeira que foge aos padrões do auriverde, defendem uma nova Democracia que verdadeiramente, não me pertence, justo, porque nela,  não identifico a bendita coerência e liberdade na qual, me espelhei vida afora, onde pensar, mesmo contrariando fortes correntes da intelectualidade, fez crescer o senso crítico e consequentemente, o mundo e a humanidade.


quinta-feira, 11 de setembro de 2025

OLAMBENTA, JAMAIS...

Acordei com o coração incendiado pela ideia de que o maior presente que se pode dar a uma criança é fazê-la sentir o milagre de existir.

Ensinar-lhe que o corpo é morada sagrada e a mente, farol que ilumina.

Educar é convidar a perceber os sinais invisíveis do quotidiano aqueles que, de tão próximos, quase se tornam invisíveis.

Não importa a cor, o dinheiro, o lugar de onde se vem.


RENASCENDO DAS CINZAS

Foi bom enquanto durou, assim como tudo numa convivência amorosa. Afinal, até a mais tórrida das emoções acaba com a morte, oferecendo ao que fica a oportunidade de um recomeço. Porém, nem todos compreendem: muitos acreditam que recomeçar é simplesmente estar disponível para uma nova relação, sem antes criar um necessário intervalo. É nesse espaço que a solidão pode tornar-se uma oportunidade preciosa de recolher as partes de si que ficaram pelo caminho.

Dividir espaço, sentimentos e emoções, por mais intensos e proveitosos que tenham sido, absorve sempre uma parte do outro. É preciso resgatá-la para que haja um luto consciente e saudável. Só assim, se um novo amor surgir, ele será verdadeiramente original, criando emoções inéditas, e não uma mera cópia do anterior.


Acordei cedo

...antes do dia clarear, e li um artigo que me tocou fundo por ser uma crítica sensível aos preconceitos que, mesmo disfarçados, continuam a...