quinta-feira, 20 de novembro de 2025


 

EM TUDO, O BELO

De volta ao meu aconchego neste amanhecer bendito, ouvindo alguns clássicos de Chopin, penso que eu seria uma péssima pessoa se usasse o dom de escrever, que recebi pelas graças de um generoso Deus, ou seja lá o nome que a Ele queiram dar, sem falar de amor. Como se não fosse capaz de descrever o belo das suas criações, optando apenas pelo feio, bruto e amargo também contido nas suas obras de arte universais.

Quando meus míopes olhos, com a ajuda de lentes sobressalentes, focam uma esplendorosa mata, que pode ser apenas uma pequena capoeira aparentemente isolada num imenso pasto, vejo-a como um oásis de vida, convidando-me a admirá-la.


quarta-feira, 19 de novembro de 2025

Que amor é esse, meu Deus?

De súbito desperto,

e num gesto leve, quase vento,

elevo o braço ao amanhecer.

Minha mão esquerda dança no ar,

como se o mundo coubesse

entre o abrir e fechar dos meus dedos.

Oh, maravilha que somos…

Basta olhar a nudez simples das mãos

para entender que nelas vive um templo:

força, delicadeza e destino.



 

TUDO A SEU TEMPO

As nuvens pairavam no horizonte das profundezas de mim, mas as minhas mãos suaves, porém teimosas, foram afastando-as uma a uma, tentando permitir que os raios de um sol imaginário iluminassem o impossível que o medo insistia em aprisionar.

Na companhia da madrugada e do teclado, torno-me artista do próprio sentir: risco a tela com traços firmes ou delicados, sempre guiada pela intensidade que me habita. Quero fazer das letras murais coloridos, mesmo quando o resto não passa da tinta preta das incertezas sobre o branco dos meus quereres.

O coração acelera, a respiração se aperta, o peito sufoca, mas a mente, sábia pelo tempo, sopra serenidade e murmura: “Calma… tudo a seu tempo.”

O adágio que ouço desliza dos ouvidos à alma e transporta-me como folha ao vento, num bailado que se repete entre o céu e a terra. Ali, guiada pela fé, continuo a desenhar mais um quadro da minha vida, como se cada gesto fosse tecla de um piano onde se fundem sonhos e realidade.

“Há quadros que só se pintam no silêncio da madrugada.”

E então, enfim, o sono chega. Bem-vindo seja.

Regina Carvalho- 19.11.2025 Pedras Grandes SC -1.47h



terça-feira, 18 de novembro de 2025


 


 

EM TUDO DOU GRAÇAS ✨🌈

Hoje, depois de um simples gesto de amor — uma sopinha quente feita pela minha nora e trazida com carinho pelo meu filho — meu coração voltou a agradecer. 

E, nesse instante, um filme de memórias emergiu…

Revi os meus fundos de poço, as noites densas, os silêncios profundos. E percebi, mais uma vez, que superei tudo, não por mérito próprio, mas pela força silenciosa que habita em mim e que nunca me deixou sucumbir. 


segunda-feira, 17 de novembro de 2025

RESPEITANDO LIMITES

O dia amanheceu acinzentado, mas, pelo menos até agora, nem frio e muito menos chuva. Esta indefinição climática, que nem ata nem desata, está surtindo efeito nas minhas inspirações que, da mesma forma, apresentam-se confusas.

São mais de nove horas deste início de semana e cá estou, selecionando o que escrever, o que definitivamente não combina com meus hábitos, já que as palavras costumam pulular na minha mente, muitas vezes antes mesmo de eu acordar, tornando meus escritos mais autênticos e naturalmente espontâneos.


 


domingo, 16 de novembro de 2025


 

“Escalafobética”

Acordei meio assim…

Pensando bem, acho que, na realidade, em cada etapa da minha vida houve inúmeras ocasiões em que eu não precisei fazer esforço algum para me sentir exatamente assim.

E então, nas minhas crises existenciais, como a que percebo estar vivenciando agora, surge um desapego crescente, cada vez mais aguçado, de tudo aquilo que outrora foi importante: coisas, pessoas, sentimentos, emoções e todo o resto que, até ontem ou no mês passado, parecia fundamental.



 

CONTABILIZANDO EMOÇÕES

Cá estou de volta ao meu cantinho em Tubarão e, de tão cansada, acabei por adormecer no sofá com a televisão ligada, hábito adquirido ao longo dos anos de convivência com o meu Roberto, que me fazia cafuné enquanto assistia às suas séries preferidas.

A diferença é que, depois, ele me guiava, ainda dormindo, e me ajeitava na cama. Como não sentir saudades?

Penso então na sorte que tive, quando ainda menina, enxerguei nele o amor da minha vida…


sexta-feira, 14 de novembro de 2025

ESTRANHEI A CAMA OU A COMPANHIA?

Pois é…

Ontem vim passar uns dias na casa da minha filha, em Pedras Grandes, bem pertinho de Tubarão, entre o rio e uma mata deliciosa, tudo aquilo que nós duas simplesmente adoramos. Para completar, há ainda o encanto da comidinha da roça e o cheiro do mato verde, que me abraça como uma memória antiga.

Depois de cinco anos sem marido para aquecer os meus pés e outras cositas mais, ter de dividir a cama com filha, cachorro e gato… confesso: é demasiado para mim, pelo menos na primeira noite.

Resumindo: quem disse que consegui passar das três e meia da manhã?



 

quinta-feira, 13 de novembro de 2025


 

“Eu sou o eu que escolhi ser.”

Li esta frase logo cedo, numa postagem sobre o ator Sidney Poitier da minha amiga Carmem Lúcia Salomane.

E ela encaixou-se em mim como uma luva fina, daquelas que tocam a alma.

Desde cedo aprendi regras não ditas, mas profundamente sentidas.


quarta-feira, 12 de novembro de 2025

 "Ética... pra que serve mesmo?"

Nem nos apercebemos, mas é a ética que conecta o comando da nossa íntima caixa de forças às energias que determinam as nossas ações e reações à intensidade e qualidade que nos refletem.

Poderia ter recebido infinitos outros nomes, ou simplesmente nenhum, se o genial e curioso pensar de Aristóteles não a tivesse definido, nomeando-a como “ética”, a partir do termo grego éthos, que significa “caráter”, “costumes” ou “modo de ser”. Foi ele quem a estabeleceu como o estudo da conduta humana e da busca pelo bem supremo/ felicidade ou o florescimento humano, transformando-a numa disciplina prática, focada em como viver e agir para alcançar uma vida plena.

Depois de ler, observar e vivenciar comigo e com os outros, por toda a minha vida, chego à conclusão, atrevida e assumidamente “filósofa tupiniquim”, de que no início, meio e fim de qualquer convivência humana, há apenas uma pergunta que se deva fazer, um ensinamento que devemos repassar:

“E se fosse comigo?”

 Regina Carvalho-Tubarão, SC – 12.11.2025



terça-feira, 11 de novembro de 2025

SEM TEMPO PARA SOFRER

Nesta manhã, mais do que nunca, acordei a pensar no quanto a vida, a universalidade, ou seja lá o que for, esteve ao meu lado o tempo todo. Prefiro crer que tenha sido ação divina: um constante exercício de empurra e estica entre dores e frustrações que pareciam fatiar-me, e as incríveis alegrias que me abasteciam de esperança, mantendo-me ocupada, impedindo-me de sofrer e lembrando-me do poder de degustar por completo as fascinantes experiências existenciais, raras para alguns, inexistentes para a maioria, mas absolutamente sorvidas por mim, em formas e ocasiões surpreendentes.



 


 

segunda-feira, 10 de novembro de 2025

SOLIDÃO - POR QUE NÃO?

Criamos as palavras e, dependendo da era em que vivemos, associamos a elas medos, angústias, culturas e, acima de tudo, preconceitos. E, em nome do que tememos, acabamos por nos escravizar, sem correntes aparentes.

Quando decidi permanecer sozinha em minha casa, na Ilha de Itaparica, fui cobrada o tempo todo. Afinal, que loucura era essa de ficar só, entre pássaros, numa casa desproporcional às necessidades de uma única pessoa e, ainda mais na minha idade?

De repente, após a morte do meu Roberto, imaginaram-me uma haste sem o concreto que a sustentasse.

Que coisa, viu!


quinta-feira, 6 de novembro de 2025


 

DESUMANIZAÇÃO

Não sei você que me lê, mas eu, a cada dia, mais me recolho nos meus escritos, não por covardia, já que minha vida foi composta de atos contínuos, onde não cabia o medo; do contrário, jamais teria chegado até aqui tão inteira como me sinto, mas por pura prudência.

Medir cautelosamente os riscos é fundamental e, para tal, não me faltaram perspicácias sensitivas para senti-los, graças unicamente à bendita educação doméstica, que descortinou para mim, ainda criança, o comparativo de valores entre a natureza, Deus e eu.


quarta-feira, 5 de novembro de 2025


 

SEM PERDÃO

Que hábito doentio é esse que possuímos de endeusar determinadas figuras, retirando delas a bendita humanidade que poderia servir de espelho produtivo para nós e para os demais?

Como se o simples fato de deixar transparecer as mazelas apagasse, concomitantemente, as suas evidentes grandezas.

Ídolos públicos, sejam religiosos, políticos ou artísticos, pela vivência e complexidade, não estão isentos de cometer erros, de terem dúvidas e medos, ou mesmo de fazer escolhas pessoais que não se alinhem com o que se acha e se crê.

👇Formatação ilustrativa-IA


terça-feira, 4 de novembro de 2025




 

CARRAPICHO

São quatro e trinta desta terça-feira de novembro. O ano já se aproxima do fim e, em breve, mais uma vez, iremos festejar a chegada de um novo ciclo, deixando para trás perdas e danos, ainda que por alguns segundos, durante a contagem regressiva. Teremos em mãos uma bebida compatível com a realidade financeira deixada pelo ano que se despede e, na mente, apenas a esperança de um tempo melhor.

Enquanto esse momento não chega, arrastamos, cada qual, os embaraços ainda não resolvidos, assim como o cansaço e o desgaste, absolutamente reais, de mais um ano de nossas vidas. Inconscientemente, procrastinamos, amparados em argumentos que a nossa mente fértil cria para que não enfrentemos esta ou aquela questão que nos exaure mais do que as lutas diárias pela sobrevivência.

Penso no quanto somos repetitivos nas posturas, já que fazemos da esperança um lúdico engano. Afinal, se nada alteramos, como esperar reais mudanças?

Não seria essa insistência em prolongar o que já não faz sentido uma forma de sabotagem emocional, um jeito de driblar o medo do fracasso aos olhos do mundo, em detrimento do próprio interior, que dói e chora?

Tolamente, acreditamo-nos livres, festejando um novo ano que chega, ainda arrastando consigo a pesada bagagem das íntimas hipocrisias, como se fossem carrapichos.

A quem, afinal, enganamos?

Regina Carvalho — 4.11.2025, Tubarão SC



segunda-feira, 3 de novembro de 2025

 

“O Bordado do Tempo”

Entre agulhas e memórias,

vou alinhavando o que vivi.

Cada ponto é uma história,

cada linha, um “ainda estou aqui”.

Nas tramas que o tempo tece,

há fios de dor, fios de alegria.

Uns desbotam, outros enaltecem

o pano cru da poesia.

Furei meus dedos sem medo,

chorei nas horas de engano.

Mas do sangue fiz enredo,

e do erro o meu plano.

Não uso dedais de proteção,

prefiro sentir o que é real.

O toque, o risco, a imperfeição,

dão forma ao meu bordado final.

E quando olho o que costurei,

vejo o mapa da minha essência:

não há linha que eu não amei,

nem ponto sem resistência.

Regina Carvalho- 3.11.2025 Tubarão SC



domingo, 2 de novembro de 2025


 


 


 

LEI DO RETORNO

No Natal de 1964, minha mãe estava hospitalizada após uma cirurgia invasiva. Lá estava eu, sentada no quarto do Hospital Samaritano, com os olhos adolescentes fixos na parafernália de tubos que haviam sido introduzidos nela, enquanto minha tia Nair, irmã de meu pai, ao lado da cama, assinava um cheque apoiando-o na própria bolsa, para que sua irmã Helena comprasse um peru para a ceia de Natal que se aproximava.

Imediatamente pensei no quanto minha mãe sofria e, ainda assim, precisava ouvir aquela discussão banal sobre o peso de um peru.


sexta-feira, 31 de outubro de 2025

VIL MORTAL

Nesta tarde, estou concentrada diante do notebook, buscando palavras para serem escritas, já que pela manhã elas me faltaram. E como são como o ar que respiro, o meu dia tem sido abafado, como se este me faltasse aos pulmões.

Sinto-me estranhamente incompleta e, apesar de em outras ocasiões ter sentido algo parecido, desta vez uma ponta de ansiedade insiste em empurrar a minha bendita paz para fora de mim. A mente resistente persiste em não abrir espaço, enquanto a alma permanece inquieta. Afinal, são tantos anos de tão absoluta paz que esta alteração cria uma inquietação quase, eu diria, um conflito que altera o meu todo, desestabilizando-me.



 

quinta-feira, 30 de outubro de 2025


 


 

MAMÃE — EU ESTOU NA TV

Nesta tarde, depois da batalha deflagrada no Rio de Janeiro onde apreensões, mortos e feridos compõem o saldo a ser computado nos indicadores sociais, desvenda-se, a cada noticiário, a aparição midiática dos especialistas. Eles surgem de todos os cantos: desde os doutores das universidades até o presidente da ONU, todos se regalando com alguns segundos nas TVs.

De repente, até o Governo Federal “acha isto ou aquilo”, como se, até então, não soubesse por meio de seus ministros e de seu presidente que, numa guerra, é preciso articular várias frentes de combate. Tal qual numa disputa eleitoral, na qual, convenhamos, o atual governo demonstrou, a cada instante, o quanto soube articular sua vitória, usando e abusando de todas as estratégias necessárias.

👇BRASIL DA FOME - DA MISÉRIA - DA OSTENTAÇÃO


terça-feira, 28 de outubro de 2025


 

O BANQUETE

Cá estás, cá estou, cada qual sentado nos extremos da mesa, aguardando pacientemente ser servido o banquete da solidão.

Enquanto não chega, servimo-nos das entradas individuais de palavras filosóficas, contidas e servidas nas bandejas emocionais dos poemas.

Ao fundo, a música envolvente acalenta a fome do que nos falta, abafando os ruídos das nossas mentes cansadas da espera, neste banquete para o qual fomos convidados.


segunda-feira, 27 de outubro de 2025


 

VIRANDO A PÁGINA

O simples ato de ler um livro traz, de forma implícita, um dos maiores ensinamentos, pouco abordado pela psicologia: virar as páginas.

Sem esse gesto, interrompe-se a continuidade e perde-se o entusiasmo que acompanha a conclusão de cada capítulo lido.

Cada página é vivenciada e absorvida de maneira única por cada leitor, reservando experiências sensoriais e emocionais exclusivas, mesmo que, a olho nu, pareçam semelhantes a tantas outras.


domingo, 26 de outubro de 2025


 

SIRICOTICO

Nossa, me tirar da cama nesta manhã de domingo foi um processo demorado, bem aquém dos meus hábitos, já que fui, a vida inteira, uma prima-irmã das corujas e das galinhas: acostumada a acordar muito antes do dia amanhecer.

O que foi? Por que foi?

Não saberia explicar, além do fato de estar, mais uma vez, surpreendida. De uns anos para cá, venho sistematicamente quebrando hábitos e costumes. E, aí, dou graças a Deus por ter eliminado do meu temperamento afoito e passional os meus históricos siricoticos.


sexta-feira, 24 de outubro de 2025


 

TURFE PESSOAL

SÃO OITO HORAS desta ainda fria manhã de primavera, quase no final do mês de outubro e inevitavelmente penso que mais um ano caminha por fim, assim como todos nós, sendo que alguns, não chegarão, inclusive alguns de nós. 

Que coisa, hein!! 

Cruz credo Regininha, isso é assunto de um começo de um novo dia?