quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

JESUS E EU

“Voa, passarinho, voa.

O voo é para quem quer voar.

Não sei se minhas asas aguentam

O voo que quero dar…”

Aprendi cedo

que asas não pedem licença.

Enquanto o mundo ensinava obediência,

meu espírito ensaiava voos.

Aos doze anos,

blasfemei sem saber:

— Vou viver como me couber.

E o amor não terá turno fixo.

Foi ali que entenderam:

eu não caberia...

Cresci num mundo que chama de virtude

o medo bem comportado

e de pecado

a liberdade desperta.

Por isso li o Novo Testamento

como quem rasga véus,

não como quem coleciona regras.

E quanto mais lia,

menos reconhecia

o Cristo das instituições.

O Jesus que encontrei

não construiu altares.

Desmontou prisões.

Não pediu fé.

Estimulou verdade.

Não salvou almas

acordou consciências.

Dogmas nasceram depois,

quando o amor já não bastava

e o poder precisava de nome sagrado.

Ser livre

foi o maior milagre

que ele realizou todos os dias.

E amar o próximo

nunca foi gesto moral:

é experiência mística.

O próximo não é conceito.

É o que respira diante de ti

pessoa, bicho, árvore, silêncio.

Quem ama o todo

não precisa de religião.

Precisa de coragem.

Porque Deus

não mora nos templos.

Mora no espaço exato

onde o medo termina.

Regina Carvalho- 18.12.2025 Tubarão SC



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