“Voa, passarinho, voa.
O voo é para quem quer voar.
Não sei se minhas asas aguentam
O voo que quero dar…”
Aprendi cedo
que asas não pedem licença.
Enquanto o mundo ensinava obediência,
meu espírito ensaiava voos.
Aos doze anos,
blasfemei sem saber:
— Vou viver como me couber.
E o amor não terá turno fixo.
Foi ali que entenderam:
eu não caberia...
Cresci num mundo que chama de virtude
o medo bem comportado
e de pecado
a liberdade desperta.
Por isso li o Novo Testamento
como quem rasga véus,
não como quem coleciona regras.
E quanto mais lia,
menos reconhecia
o Cristo das instituições.
O Jesus que encontrei
não construiu altares.
Desmontou prisões.
Não pediu fé.
Estimulou verdade.
Não salvou almas
acordou consciências.
Dogmas nasceram depois,
quando o amor já não bastava
e o poder precisava de nome sagrado.
Ser livre
foi o maior milagre
que ele realizou todos os dias.
E amar o próximo
nunca foi gesto moral:
é experiência mística.
O próximo não é conceito.
É o que respira diante de ti
pessoa, bicho, árvore, silêncio.
Quem ama o todo
não precisa de religião.
Precisa de coragem.
Porque Deus
não mora nos templos.
Mora no espaço exato
onde o medo termina.
Regina Carvalho- 18.12.2025 Tubarão SC

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