terça-feira, 23 de dezembro de 2025

TUDO TEM UM PORQUÊ…

Estou buscando inspiração desde as cinco da manhã deste domingo e, para tanto, li, ouvi e publiquei várias mensagens que, de alguma forma, fizeram sentido para mim. No entanto, nenhuma delas conseguiu acender sequer uma brasa de inspiração. E assim, sem ansiedade, mas teimosa como um burro xucro, permaneci diante do notebook até que, a poucos instantes, vinda sei lá de onde, uma aragem fresca e perfumada atravessou o espaço entre ele e eu. Junto com ela, veio a frase: Tudo tem um porquê…

Pronto. O universo, através do aroma de rosas frescas, mandou a inspiração, a fim de que eu aproveitasse esta época pré-natalina para escrever lembranças que se perderam em meio à leviandade ou que, talvez, jamais tenham verdadeiramente existido.


Sei lá… afinal, quem sou eu para tecer uma avaliação não só generalizada, como também precisa?

Há, provavelmente, uns dez anos, inspirei o amigo e diretor teatral Yulo Cesar a criar “Natal do meu tempo”, apresentado em praça pública com a participação dos jovens da cidade de Itaparica–BA. Diga-se de passagem: ficou emocionante, lindo e inesquecível.

Era o Natal de um tempo em que, ainda criança, eu não poderia mensurar que se tratava tão somente de um simbolismo, ainda que cercado por uma atmosfera envolvente de brilhos, cores, aromas e sabores.

O tempo foi passando, as tecnologias surgindo e se avolumando e, desastrosamente, despido da criatura humana, todo e qualquer vestígio cristão foi sendo esvaziado, permanecendo apenas o simbolismo cru, sem maior emoção em relação a Cristo e muito menos a qualquer afetividade familiar cristã.

O sentido-show dos arranjos urbanos natalinos, das festas, recessos, presentes e bebidas foram substituindo o que ainda restava de fraternidade.

E aí, como pensadora contumaz, lamento que o motivo mais cruel tenha sido o esfacelamento familiar que, mesmo com suas fragilidades, ainda resistia, agregando e preservando valores hoje questionados e, em sua maioria, destruídos. Valores que dantes representavam limites tão necessários para que notórias barbáries não se estabelecessem de forma tão cruel e abusiva.

A consciência do certo e do errado, do bem e do mal, ainda eram sinaleiras iluminadas que serviam de lógica vivencial, pelo menos para a maioria. O véu do faz de conta não havia se popularizado; as narrativas ainda não tinham o poder de se sobrepor aos fatos; o sentido de preservação pessoal não havia sido descartado. E, mesmo reconhecendo a sempre presente hipocrisia, esta ainda não tinha força suficiente para suplantar verdades comprováveis.

Lamentavelmente, para mim, que muito já vivi, também muito tenho me decepcionado com os Natais sem Jesus, sem um mínimo de amor cristão verdadeiro para com os demais, humanos ou não.

Perdoem-me a franqueza de não enxergar, e muito menos sentir, qualquer emoção além da tristeza disfarçada de amigo oculto na noite natalina; dos risos patrocinados pela ingestão de álcool; e do “amor cristão” que cessa no dia 26, quando então, se preparam novas razões para comemorar, no dia 31, uma vida fria e sem liberdade palpável de qualquer espécie.

Viva-se o Natal com fome, sem esgotamento sanitário, sem educação decente e construtiva, sem segurança, sem hospitais, mas com muita indiferença, desfaçatez, oportunismos e uma caricata democracia, tudo embrulhado para presente.

Regina Carvalho- 21.12.2025  Tubarão SC

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