terça-feira, 30 de dezembro de 2025

PERDAS DE UM TEMPO QUE, ALÉM DE CURTO, É INCERTO

E assim, vai-se ao pé da letra, levando a vida, crendo que segue propósitos. Mas, na maioria das vezes, criam-se caminhos apenas para justificar a própria existência. Para tal, desenham-se e esculpem-se buscas e conquistas sob os auspícios de modelos pré-determinados de uma cultura repetitiva e, geralmente, atávica.

Cega-se.

Ensurdece-se.

Anestesia-se.

Enquanto isso, a vida vai fenecendo, silenciosa e lentamente, antes mesmo que a finitude os alcance.


E como zumbis, vaga-se. Cada qual em seus castelos, casebres ou calçadas, dentro de um sistema sem alma que desestrutura até aniquilar o que há de mais autêntico e sensível. Maldoso o suficiente para deixar marcas em alguns, permitindo-lhes sentir, de forma consciente e lúcida, a morte antecipada de suas ideias e ideais mais genuínos.

Rouba-se a esperança, a única capaz de mover as barras de aço da prisão invisível que se instala dentro das pessoas.

Em instantes raros de lucidez, é possível catalogar montanhas de ações e reações absurdamente desnecessárias, que impedem o simples viver sentindo-se. Viver como tudo mais vive, tal qual se apresenta.

Como nada de verdade é observado, sentido ou degustado, as ilações e os “achismos” passam a ditar normas de conduta que, em sua esmagadora maioria, são tolas, burras ou inconsequentes.

As soluções oferecidas como bengalas existenciais são muitas e variadas. Contudo, seus efeitos são breves e viciantes.

Que tal traçar como meta para 2026 evitar as inúteis perdas de energias?

Falar menos o que não é necessário.

Discutir menos.

Argumentar menos.

Talvez buscar seletividade nos relacionamentos de qualquer natureza. Arriscar-se ao diferente. Evitar, sempre que possível, a mesmice comportamental.

E então, interromper o vazio apenas para sentir que a vida é muito mais do que o mundinho clonado que o sistema viciado e corrompido insiste em oferecer.

Neste instante, interrompo estes escritos. Pauso apenas para escutar o mundo encantado e regenerador do silêncio, que traz consigo um sabiá cantando lá fora.

Parte deste texto foi escrita em 30.12.2024, na quietude de minha Itaparica. Hoje, considerei adequado revisitá-lo, com alguns ajustes, pois observo uma piora abusiva da alienação em relação à vida, agora, somada a uma crueldade mais explícita, travestida de indiferença brutal, ostentada pelas mídias e ignorada pelo mundo.

Crueldade que, sorrateira e perniciosa, forma-se nos cada vez mais desajustados seios familiares, culminando sob a luz do sol ou das estrelas, nas calçadas, avenidas e ruas de qualquer lugar.

Regina Carvalho

30.12.2025 — Pedras Grandes / SC

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