Acordei
com o mundo desalinhado dentro de mim.
Não por soberba
mas porque nunca aprendi
a fingir que o torto é reto.
Sempre quis ajustar arestas,
não destruir estruturas.
Há realidades que pedem cuidado,
não ruína.
E eu sempre soube disso.
Mas hoje,
algo mudou.
Entre o silêncio bonito do amanhecer
e a paz emprestada do lugar onde estou,
compreendi o quanto
a leviandade humana
cansa mais do que o peso.
A superficialidade adoece.
E adoece o mundo.
Pergunto-me:
é desesperança
ou lucidez tardia?
Se o que não vergou o meu corpo
agora dobra a minha mente,
não por fraqueza,
mas por exaustão de nadar
contra correntes insanas.
Talvez reste apenas
deixar o rio da loucura coletiva seguir,
sem me lançar outra vez
à correnteza.
Foram muitas marés,
muitas braçadas,
muitas chegadas
que nunca chegaram.
Hoje, escolho ficar
na praia calma do meu interior,
onde o lixo da inconsciência
ainda não encalhou.
Faltam dez dias para o Natal.
E Jesus
inteiro em seus ensinamentos
segue ignorado.
As vendas permanecem.
A criatura humana prefere
figurar
a protagonizar.
E eu,
cansada de consertar o mundo,
aprendo, lentamente,
a preservar a mim.
Regina Carvalho
14.12.2025 — Pedras Grandes / SC

Nenhum comentário:
Postar um comentário