domingo, 14 de dezembro de 2025

APERFEIÇOANDO O MUNDO

Acordei

com o mundo desalinhado dentro de mim.

Não por soberba 

mas porque nunca aprendi

a fingir que o torto é reto.

Sempre quis ajustar arestas,

não destruir estruturas.

Há realidades que pedem cuidado,

não ruína.

E eu sempre soube disso.

Mas hoje,

algo mudou.

Entre o silêncio bonito do amanhecer

e a paz emprestada do lugar onde estou,

compreendi o quanto

a leviandade humana

cansa mais do que o peso.

A superficialidade adoece.

E adoece o mundo.

Pergunto-me:

é desesperança

ou lucidez tardia?

Se o que não vergou o meu corpo

agora dobra a minha mente,

não por fraqueza,

mas por exaustão de nadar

contra correntes insanas.

Talvez reste apenas

deixar o rio da loucura coletiva seguir,

sem me lançar outra vez

à correnteza.

Foram muitas marés,

muitas braçadas,

muitas chegadas

que nunca chegaram.

Hoje, escolho ficar

na praia calma do meu interior,

onde o lixo da inconsciência

ainda não encalhou.

Faltam dez dias para o Natal.

E Jesus

inteiro em seus ensinamentos 

segue ignorado.

As vendas permanecem.

A criatura humana prefere

figurar

a protagonizar.

E eu,

cansada de consertar o mundo,

aprendo, lentamente,

a preservar a mim.

Regina Carvalho

14.12.2025 — Pedras Grandes / SC



Nenhum comentário:

Postar um comentário