domingo, 7 de dezembro de 2025

POR UNS TROCADOS A MAIS…

O domingo acorda lento,

e eu que ainda não escrevi palavra alguma,

percebo que passei horas a ouvir o mundo,

a recolher vozes,

a colher sentimentos alheios

como quem apanha conchas deixadas pela maré.

Entre mensagens de amor e política,

o meu coração, sempre vadio e vigilante,

mistura tudo:

porque o amor também quer governo,

e a política, ah… essa,

governa mesmo quando não sabe amar.

Digo-me: haverá coisa mais vasta que a política?

Haverá mundo mais cheio de becos,

de sombras,

de mãos que se estendem para dar…

e para tirar?

De quem muito viu,

muito guardou nos olhos:

percebe-se que nada muda, 

muda-se apenas o disfarce.

Os pesos continuam desiguais,

e o povo segue a pagar a conta da ilusão.

Por uns trocados a mais, vendem-se?

Por um cargo brilhante,

entregam-se?

Durante anos fiz estas perguntas

até compreender:

não é o dinheiro nem o prestígio

que cria o monstro.


O monstro já dormia lá dentro,

à espera de quem lhe acendesse o pavio.

Diz o povo que a ocasião faz o ladrão.

Eu digo: a ocasião apenas o acorda.

O caráter que nasce torto,

cresce à sombra

e alimenta-se da miséria moral

que se espalha como erva daninha.

E o amor?

O amor não divide cama com a política.

Quando tenta, perde-se.

Fica manchado.

Fica pobre.

Porque, no fim,

a multidão prefere o vilão ao herói:

o vilão não esconde o rosto,

nem a sede,

é sedutor na sua própria desgraça.

E a gente, que pensa,

cansa.

E a gente, que ama,

espera.

Entre o desencanto e a poesia,

segue o coração,

esse teimoso militante da vida.

Regina Carvalho — 7.12.2025, Tubarão, SC

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