segunda-feira, 8 de dezembro de 2025

PRIORIDADE

Nesta segunda-feira, em mais um final de ano, acordei pensando nesta palavrinha mágica que tantas vezes esquecemos: prioridade. Geralmente ignoramos o seu verdadeiro significado, por isso vale recordar: prioridade é aquilo que deve vir em primeiro lugar, o que tem mais importância, urgência ou necessidade num determinado momento. É o foco central da atenção antes de qualquer outra coisa.

Até aqui, todos sabemos o conceito. O que muitos não sabem é distingui-lo. Normalmente, avaliamos prioridades a partir do que vem de fora, quando o correto seria partir de dentro. Afinal, se não me coloco como prioridade, como poderei, com precisão, priorizar algo ou alguém?


Salvo em casos específicos, como situações de doença grave ou morte de alguém que amamos verdadeiramente, as nossas prioridades dificilmente passariam por uma peneira mais fina, porque muitas delas são construídas de forma grosseira, quase automática.

Ontem, ao assistir ao Fantástico e rever reportagens sobre o aumento dos feminicídios, compreendi melhor a extensão desta barbárie que, ao ser consentida e cometida, destrói não apenas uma vida, mas todo um entorno onde sentimentos, emoções e amor estão envolvidos.

Por que isso acontece?

Sem aprofundar aqui os motivos do consentimento, fixei a minha atenção nas ações em si, estas, que geram uma combustão máxima, transformando pessoas em sombras de si mesmas. Vidas destruídas: mulheres que, em números alarmantes, perdem a vida, e agressores que, ao cometerem tais crimes, destroem igualmente a própria existência, tornando-se assassinos. Tudo se perde, restando apenas desculpas esfarrapadas, lágrimas e dor.

Acredito que falta, desde cedo, alguma forma de educação para a vida, seja a minha, a sua, a de todos. Como estabelecer uma prioridade consistente se não me reconheço como prioridade? Se não cultivo em mim a atenção, o cuidado e a autopreservação, que deveriam ser permanentes, como uma blindagem natural?

Vivemos num piloto automático. Passamos o dia classificando prioridades externas, sem qualquer referência interna que seja mais importante do que aquilo que absorvemos, muitas vezes de forma errada, da família, da mídia ou de fatores emocionais e monetários que nos dominam.

Se não combatermos, através de uma educação coerente e promissora ainda nos primeiros anos de vida, este sufocamento que nos ensinam a aceitar e que nos leva a ignorar a nossa própria vida como prioridade. como poderemos compreender a complexidade dos relacionamentos humanos?

Se não nos respeitamos, como respeitaremos o outro? Se não nos preservamos, como preservaremos qualquer outro ser vivo?

Aprendemos a fazer cocó e xixi no penico, a segurar talheres, a ler e a escrever; mas em momento algum nos mostram o gigantismo da máquina perfeita que somos, nem nos estimulam a conhecê-la e a protegê-la.

Como, então, protegerei o outro, seja humano ou não, apenas por ser vida única neste mundo que tantos afirmam, cada qual à sua maneira, ser obra de Deus?

Se nem o identificamos em nada, muito menos em nós mesmos.

Há muito cheguei à conclusão de que as mudanças não dependem apenas do rigor das leis, nem de teses de doutoramento. Dependem, sim, de uma educação de base em que a prioridade seja o reconhecimento pessoal como fundamento maior de valor e dignidade.

Simples assim...

Regina Carvalho – 8.12.2025 – Tubarão, SC

Nenhum comentário:

Postar um comentário