domingo, 28 de dezembro de 2025

IMINENTE FIM...

— Que é isso, Regininha? Onde já se viu falar em fim com um novo ano tão próximo e, ainda por cima, apenas três dias após o Natal?

Há uma curiosidade absolutamente justificável sobre o porquê de eu escrever e vivenciar a vida de forma tão alegre. Cabe me, portanto, explicar: a motivação é, tão somente, a conscientização do meu próprio fim.

Em certo momento que não sei precisar quando, mas certamente ainda na infância, compreendi a minha mortalidade e, aliás, a de tudo o mais. Nesse instante, entendi também a urgência de não adiar, de não deixar para depois tudo aquilo que a minha mente e os meus sentidos, em comum acordo, desejavam. Não por leviandade, mas por absoluta necessidade.


Olho ao meu redor e assusta me a legião de vampiros que não teme o sol, mas que mantém a alma encerrada no caixão das acomodações.

E as conveniências perante os demais?

Depende de quais e de como são encaradas. Afinal, ninguém vive isolado em sua totalidade; assim como não podemos e nem devemos afrontar aqueles que nos cercam. Todavia, partindo da premissa de que pessoas infelizes são incapazes de doar algo verdadeiramente bom, além do estritamente material, há, de início, uma afronta sendo cometida.

Uma afronta dupla: os interessados percebem o automatismo das ações e das emoções envolvidas, enquanto o outro sufoca o seu inalienável direito de vivenciar aquilo que mais lhe aprouver.

As necessidades são individuais, sujeitas a alterações e até a profundas mudanças. Nada justifica, portanto, o seu aviltamento.

Da mesma forma, buscar novas realizações pessoais não legitima pisotear ou simplesmente ignorar aquilo que, em outros momentos, completou e coloriu o bendito bem estar. O sentido da gratidão é uma manifestação saudável, presente ou ausente — no caráter de cada pessoa.

Bendita seja a conscientização do fim, pois é ela que nos impele a não desperdiçar os instantes do aqui e agora.

Regina Carvalho

28.12.2025 — Pedras Grandes, SC

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