segunda-feira, 12 de fevereiro de 2024

RESSACA...

Pera aí, não estou falando de bebida, mas do mar. Foram minutos apavorantes e inesquecíveis que vivenciei no início dos anos sessenta na companhia de minha mãe no posto 10 em Ipanema.

Ainda me lembro que sendo puxada por uma das minhas mãos, corria com o corpo meio de lado, temendo ser engolida pela água que insistia em tocar no meu calcanhar e mesmo, já na calçada, ainda corríamos desesperadamente, pois a violência da força descomunal das ondas, lançava-se  alto e distante, chegando quase na esquina da rua Anibal de Mendonça com Visconde de Pirajá, quando então, nos foi possível uma pausa para simplesmente respirarmos com os nossos corações, dando a impressão que sairiam pelas nossas bocas. Esta foi a minha primeira literal experiência com o medo. 


Neste dia e no dia seguinte, minha avó e minha tia Nair que moravam diante deste bravio mar, na av. Vieira Souto, ficaram literalmente presas no apartamento, já que as entradas do prédio, ficaram impedidas pelo volume de areia que se formou.

Minha mãe, acostumada ao temperamento inconstante e nada amigável do mar, fez daquela experiência, exemplo educativo para a minha cabecinha apavorada de apenas 10 anos, lembrando-me do perigo de não se estar atenta ao respeito que se dava dar a bandeira vermelha, quando hasteada, mesmo que o mar aparente calmaria.

Ao longo da vida, fui aprendendo com os contínuos registros obtidos através das muitas inspirações e treinamentos sensitivos, que na ausência de uma bandeira vermelha sinalizadora, a atenção aos sinais dos meus sentidos, certamente, seria o mais poderoso aliado de minha mente para seguir, desviar ou simplesmente desistir de qualquer empreitada, porque se, afinal, o mar é perigoso, tanto cá como acolá, viver e conviver, seria o meu mais constante desafio.

Que nesta segunda-feira de carnaval, a sua ressaca seja lá, do que for, possa lhe acrescentar algum precioso aprendizado, seja para seguir, desviar ou desistir, afinal, não basta correr e sobreviver é preciso ser feliz.

Regina Carvalho- 12.02.2024 Itaparica

Nenhum comentário:

Postar um comentário

BRINDES DA VIDA

São tantos os que recebi ao longo de minha vida, que não haveria pautas suficientes para enumerá-las, todavia, podem ser resumidas numa únic...