sábado, 3 de fevereiro de 2024

EVIDÊNCIAS QUE FAZEM A ALMA GRITAR..

Quatorze horas depois de sair da casa da preciosa “Dona Cassimelia”, no Campo Formoso, ainda agora, precisei rezar, pedindo aos meus amigos espirituais, direcionamento para o registro doído de minha alma em relação a surrealidade do que sua filha “Graça” me relatou. 

Todavia, foi a música “Evidências”que acabei de ouvir na voz do nosso Roberto Carlos que finalmente, desbloqueou minha mente, liberando todo o espanto que me acometeu, enquanto, ouvia a maior surrealidade dos últimos tempos desta gestão em relação ao patrimônio vivo que deveria ser intocável, pois, ainda respira vida, sentimentos e memórias.


Em momento algum e muito menos, agora, me choquei, questionei ou condenei o mérito das ações, até porque, não me cabe, por desconhecer suas implicações administrativas e jurídicas, mas por Deus, como aceitar a condução do processo, que foi sem alma e sem coração?

São 98 anos de vida, dedicação, doação e participação intensa na vida de Itaparica e de milhares de nativos para os quais, ela ofertou competência, disciplina, rigor, honestidade, ética, atenção, fidelidade e parte expressiva de seu patrimônio material, num legítimo amor a nossa bucólica e apaixonante Itaparica.

Sua vaidade, mostrou-se explicita, na sua própria postura de mulher, mãe, esposa, administradora e política irrepreensível, desejosa, tão somente, de reconhecimento, este, que dolorosamente, lhe esta sendo negado desde a metade do ano passado, quando, sem eira e nem beira, uma canetada inconsequente e desmemoriada, retirou dos seus proventos uma singela gratificação de apenas, 700,00, doada e sacramentada na gestão do então, Prefeito Vicente Gonçalves, num justo reconhecimento a ela e a outras funcionárias públicas que imprimiram em suas funções, suas próprias almas.

Conhecedor profundo das mudanças de rotas das constantes e diferenciadas carruagens políticas, este, para garanti-las, fez questão de legalizar tal doação através, da Câmara de vereadores.

Câmara através de seus edis, que simplesmente, no ano de 2023 anulou, sei lá porque razão, mas certamente, sem a necessária dignidade respeitosa da preservação do justo, mas dotada da insensatez, ao assim proceder, em relação a uma decisão de uma autoridade amada pelo povo, jogando no lixo das banalidades, como mais um ato de lesa cidadania.

A questão, no caso específico de Dona Cassimélia, nunca foi o dinheiro, mas a dor de estarem lhe tirando, o sagrado reconhecimento de seus indiscutíveis méritos.

Todavia, para a inconsequência, certamente não há limites e novamente, não satisfeitos em ferir esta preciosa lenda viva de nossa cidade, usando do poder temporário que usufruem, desconsideram-na, deixando que a mesma fosse exposta ao ostracismo com a falta de sensibilidade, competência, respeito e amor ao se sentirem poderosos suficientes para não procura-la em primeiro lugar, afim de informa-la das necessárias e justas mudanças que precisariam fazer em relação a escolinha “Criança Feliz”, deixando que as fofocas de rua, sem consistência a informassem.

E aí, fico me perguntando o porquê de todas essas ações absolutamente desnecessárias, desumanas e desastrosas?

Na última quinta-feira, por questões burocráticas e não humanas, foram em sua casa, afim de que a mesma, assinasse um contrato de dois meses de aluguel de seu, mais que um imóvel, 30 anos de sua vida, dedicado ao amparo das crianças carentes de nossa cidade.

Nos 22 anos de permanência em Itaparica, esta é primeira vez que constato uma gestão que se sente estrela suficientemente brilhante, para desconsiderar a constelação a que deveria pertencer, anulando valores humanos e culturais, fazendo das datas e das pessoas meios pelos quais, possam exibir sua própria fugaz ostentação.

Este relato é de dor por uma Itaparica que desde janeiro de 2021, vem sendo ornada com o brilho falso dos tolos.

Como não buscar no baiano Castro Alves, que por testemunhar e se tornar profundo  conhecedor da ignominia que tão bem o dicionário da lingua portuguesa descreve como; descrédito, afronta, aviltamento, conspurcação, degradação, demérito, deslustre, desonra, enxovalho, humilhação, indignidade, infâmia, sempre presente na alma de alguns humanos, previu em 1868 que suas palavras em forma de versos, seriam úteis para descreverem a futilidade, a arrogância e a estupidez de alguns humanos, quando alçam o poder, fazendo dele, malditos períodos que a história sempre fez questão de registrar.

“Ó mar, por que não apagas com a esponja de tuas vagas de teu manto este borrão?... Astros! noites! tempestades! Rolai das imensidades! Varrei os mares, tufão”!  ( Navio Negreiro).

Sem cultura histórica, não se assegura o real progresso sustentável, pois, suas benditas referências são as bases estruturais da educação, caminho único para a preservação do sentido amoroso de pertencimento, que a tudo engloba, estimulando a cidadania e o respeito ao chão que se pisa, ao espaço que se ocupa, as pessoas com quem se convive.

Sem cultura a educação entrega sem lutas o conteúdo sagrado da sua liberdade em nutrir o tudo de genuinamente bom, justo e nobre, abrindo espaço para a violência de todos os níveis.

Quem não é capaz de valorizar a cultura viva, pulsante que respira aos 98 anos e sente dor e tem sentimentos, fará tão somente, das datas pontuais, cortejos com folguedos e belos discursos para si mesmo e distraírem os demais.

Regina Carvalho- 03.02.2024- Itaparica

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