sábado, 17 de fevereiro de 2024

Ilusões perdidas

225 anos depois, acordo pensando em Honoré de Balzac e numa das suas principais obras que inclusive, inspirou a feitura de um belo filme francês, “llusions perdues” (será que é assim que se escreve?), que foi lançado no Brasil em 2022, e que narra a história de um jovem idealista e sonhador.

De repente, minha inquieta mente, voa para 1982 e ouve Maria Bethânia cantando Luzes da Ribalta, resgatando a genialidade de Charlie Chaplin, numa salada de lembranças que esbarram na minha própria vida e certamente, na de infinitas outras pessoas de uma geração mais ingênua e repleta de ilusões, que no transcorrer das décadas que se seguiram, foram se perdendo em meio as realidades de um sistema humano, repetitivo, mas sempre criativo e cruel, na forma de soterrar o melhor de cada criatura.


E aí, quase quatro anos depois de perder o meu Roberto, acordo nesta manhã de fevereiro, finalmente, compreendendo o seu extremo cuidado, quanto, a preservação dos meus idealismos políticos e sociais, afinal, mais experiente e certamente, conhecedor das dores do engano, tentou que as mesmas, eu não sentisse.

Pois é...

Sem suas margens de contenções amorosas, sentindo-me livre, deixei-me transbordar, sentindo na pele e na alma, as dores da perda das minhas ilusões em relação a capacidade humana em deixar-se tocar pela verdadeira capacidade em proporcionar para o outro, parte do que conseguiu pra si.

Na marra, entre espasmos de dolorosas e insistentes tentativas infrutíferas, fui desistindo em continuamente acreditar que o “poder” fosse qual fosse, podia fazer reais milagres transformadores, afim de que a indiferença à fome, a miséria, a ignorância existencial e a consequente violência, não fossem ações pontuais, mas se transformassem em hábitos e costumes inquestionáveis, podendo então, extinguirem a vergonha da desumanidade.

Que coisa, viu!!!

Penso estarrecida olhando através da janela, o sol deitando-se sobre o telhado da garagem e na copa da mangueira, numa breve pausa da escrita, levando-me a pensar, que nem tudo se perdeu, afinal, se testemunhei o homem na lua, a descoberta das vacinas, a criação da Internet e agora, a inteligência artificial, quem sabe um dia, o homem descubra que a dor e os prazeres que sente, seja ela qual for, não são privilégios, apenas seu e direcione o seu interesse e incrível potencialidade em se burilar, buscando a sua essência, vindo a se tornar, finalmente, a maior criação deste Deus, sempre merecedor de templos luxuosos, joelhos dobrados e louvores emocionados.

Deduzo emocionada, que ainda me restou uma pontinha de ilusão e isto, me é reconfortante...

Regina Carvalho- 17.02.2024 Itaparica

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