segunda-feira, 1 de fevereiro de 2021

SOLAS DOS PÉS


 

Num certo momento e já faz muito tempo, senti dores nas solas dos pés, percebi também que meus olhos ardiam, minha mente se confundia e o meu todo de mulher, pedia socorro, como se de repente, cada parte de meu corpo se rebelasse e juntas, no pátio de meu emocional, criavam um motim quase que incontrolável.

Como uma capitã que comanda as manobras de si mesma, joguei a velha e pesada espada no chão, soltei a armadura de nós de aço que cobria o meu corpo e libertei meus pés do couro resistente que os aprisionavam.

Finalmente a liberdade para ser apenas eu, sem olhar para trás, sem sequer pensar no futuro, apenas regozijando-me com o presente, foi tudo que costurei nas minhas novas vestes.

Peguei o sol e dele fiz um bordado, criando a minha nova textura.

Peguei as estrelas e com elas ofereci brilho aos meus olhos.

Peguei as flores, misturei-as e criei o meu aroma.

Peguei os frutos e numa mágica alquimia, criei o meu sabor.

Não demorou muito, vi o castelo ruir, afinal, sem guerreira para defende-lo, correndo a cada instante eminente risco de morte, abandonado ficou a sua própria sorte, tal qual, eu já estivera.

Olhei para traz e me pareceu um sonho, dantesco, aterrorizador, pensar que lá, já estive e quase por lá, ruí....

Pés doloridos que me alertaram e abriram espaço para um reviver

Tá certo que sem castelos, espadas e armaduras, sem esquecer dos tesouros, viver não tem sido nada fácil, mas de verdade difícil, era quando tudo isso eu tinha, só me faltando liberdade.

Respiro fundo e me sinto viva, tendo o universo me atendendo a cada instante, permitindo-me sorrir, chorar se necessário, tocando-me com amor, justo no meu emocional.

 

E sem o peso e as dores que me consumiam, hoje eu posso amar, seja lá o que for, sem esperar retorno, porque o que verdadeiramente importa é tão somente, o que sinto.

 

Que delícia é viver desnuda e de pés no chão.

Que delícia é confiar no amparo que me cerca

Que delícia é precisar de pouco e receber o máximo.

Bendito o momento, que já faz tanto tempo, que revoltados os meus pés, pisaram de botas pela última vez.



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