Num certo
momento e já faz muito tempo, senti dores nas solas dos pés, percebi também que
meus olhos ardiam, minha mente se confundia e o meu todo de mulher, pedia
socorro, como se de repente, cada parte de meu corpo se rebelasse e juntas, no
pátio de meu emocional, criavam um motim quase que incontrolável.
Como uma capitã
que comanda as manobras de si mesma, joguei a velha e pesada espada no chão, soltei
a armadura de nós de aço que cobria o meu corpo e libertei meus pés do couro
resistente que os aprisionavam.
Finalmente a
liberdade para ser apenas eu, sem olhar para trás, sem sequer pensar no futuro,
apenas regozijando-me com o presente, foi tudo que costurei nas minhas novas vestes.
Peguei o sol
e dele fiz um bordado, criando a minha nova textura.
Peguei as
estrelas e com elas ofereci brilho aos meus olhos.
Peguei as
flores, misturei-as e criei o meu aroma.
Peguei os
frutos e numa mágica alquimia, criei o meu sabor.
Não demorou
muito, vi o castelo ruir, afinal, sem guerreira para defende-lo, correndo a
cada instante eminente risco de morte, abandonado ficou a sua própria sorte,
tal qual, eu já estivera.
Olhei para
traz e me pareceu um sonho, dantesco, aterrorizador, pensar que lá, já estive e
quase por lá, ruí....
Pés
doloridos que me alertaram e abriram espaço para um reviver
Tá certo que
sem castelos, espadas e armaduras, sem esquecer dos tesouros, viver não tem
sido nada fácil, mas de verdade difícil, era quando tudo isso eu tinha, só me
faltando liberdade.
Respiro
fundo e me sinto viva, tendo o universo me atendendo a cada instante, permitindo-me
sorrir, chorar se necessário, tocando-me com amor, justo no meu emocional.
E sem o peso
e as dores que me consumiam, hoje eu posso amar, seja lá o que for, sem esperar
retorno, porque o que verdadeiramente importa é tão somente, o que sinto.
Que delícia é viver desnuda e de pés no chão.
Que delícia é confiar no amparo que me cerca
Que delícia é precisar de pouco e receber o máximo.
Bendito o momento, que já faz tanto tempo, que revoltados os
meus pés, pisaram de botas pela última vez.
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