Rapaz... Que
ódio não poder desmaiar por causa do calor e ser amparada pelos lindos garotos
do colégio militar, fosse nos jogos da primavera ou no ônibus, no retorno para
casa sob o sol de quarenta graus.
Lá estava a
Regininha sempre forte e resistente, incapaz de ser abalada, quando na realidade,
tudo que eu mais desejava era ser fraquinha e dengosa, afim de que, um rapazola
viesse me salvar.
Estou rindo
sozinha com estas lembranças, nesta madrugada de muito calor, já podendo ouvir
os pássaros a distância e o safado do sabiá se fazendo presente com o seu bom
dia estrondoso, escondidinho na amoreira, dando-me a impressão que, ou ele chega
muito cedo ou mora por aqui mesmo, pois é sempre o primeiro a me saudar, e eu,
simplesmente, adoro.
E aí,
imaginativa sem medidas, penso que de repente, se eu fosse como uma gatinha
dengosa, os meus pássaros que me acompanham desde sempre, talvez não estivessem
tão próximos, afinal, pela lei natural da vida, gatos comem pássaros.
Mas eu
queria tanto ter sido como as gatinhas dengosas, aduladas, paparicadas e sendo
consideradas frágeis e ao invés disso, tudo que eu ouvia, a começar pelo meu pai,
era: “Menina valente, você vai ser uma grande mulher”.
Muitos anos
depois, diante da repetição amorosa de meu pai, perguntei afrontosamente a ele:
Poxa pai, que
grande mulher coisa nenhuma, qual a vantagem que eu levo nisso?
Sua resposta
foi curta, mas tão pratica quanto ele:
Livre como
os pássaros que você ama...
Pois é, mas
ainda assim, como uma romântica incorrigível, penso neste instante, que ser uma
gatinha manhosa, tem suas vantagens, afinal, existe sempre alguém querendo
alisar, enquanto, uma grande mulher, só suscita admiração.
Eu queria
desmaiar, suar frio e precisar ser amparada pelos lindos meninos do colégio militar
que estavam presentes nos retornos da escola e nos sonhos de uma adolescente
que se tornaria uma eterna gatinha enrustida, esperando ser alisada por algum
rapazola, príncipe ou guerreiro, mesmo que não fosse do colégio militar.
Que coisa,
viu!!!
O dia
clareou e eu de tão absorta no passado, sequer me apercebi e, ao olhar através
da janela para este azul celestial, creio que sou uma ingrata, afinal, mesmo
não tendo sido uma gatinha dengosa, ainda assim, não sei porque razão, o
universo me abraçou a cada amanhecer, atraindo para a minha vida o simplesmente
exclusivo em forma de raras e preciosas mãos e almas que incansáveis, me alisam,
mesmo que estejam a distância, como os sons de meus pássaros, tornando-nos,
absolutamente próximos.
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