quinta-feira, 4 de fevereiro de 2021

HIBERNANDO

 

                    Não é a primeira vez e provavelmente não será a última em que frente ao imponderável, recolho-me como uma ursa, afim de um descanso necessário e de onde, posso melhor avaliar o meu entorno.

Minhas lembranças voam até 1992, quando, vi ruir o trabalho de anos a fio e que exigiu de mim, uma determinação que eu nem sabia que tinha, mas que foi desabrochando à cada necessidade.

Com a perda dos bens materiais, vieram as agressividades típicas daqueles que não sabem ou não aceitam perder numa partida de qualquer tipo de jogo.  

 Em nosso país, ser empreendedor de qualquer coisa, é como estar num cassino, correndo por todo o tempo o risco de perder, afinal, este é um país onde só os financistas e os políticos carreiristas se dão bem e eu e meu marido, éramos tão somente, empreendedores como milhões de destemidos, frente às constantes intempéries dos planos governamentais e das crises políticas.

Aquela foi uma época que de tão difícil, tanto material como emocionalmente, que por duas vezes, confesso, pensei em desistir de tudo, principalmente de minha vida, já que, da noite para o dia, literalmente, vi minha vida descer ladeira, sendo levada por uma enxurrada de situações, dantes desconhecidas.

Então, em meio a tantas motivações desastrosas, um mecanismo interno e totalmente incompreensível para os que me cercavam despontou em minha mente, levando-me a agir contrariando todas as lógicas de sobrevivência, como se de repente, eu me tornasse um camicase dos trópicos e me jogasse por inteira através da boca de um furacão da capacidade humana em ser cruel, optando em voltar e enfrentar fosse o que fosse, pois, não poderia ser pior que viver com medo.

E assim fiz, refugiando-me na casa que ainda possuía, mas que literalmente se encontrava em meio a uma densa mata, cujo vizinho mais próximo se encontrava a mais de cem metros e de onde meus gritos de socorro, provavelmente, não seriam ouvidos e por lá fiquei, sofrendo todos os tipos de medos, até mesmo dos animais noturnos que a princípio com seus ruídos naturais, enchiam-me de terror.

Quanto aos bichos fui me acostumando e quanto aos demais invasores, certamente Deus e todo o seu exército de energias, das quais sempre fui uma fiel parceira, me tenham blindado, pois, todas as tentativas foram em vão, provavelmente, porque na realidade, não queriam a mim e sim, o que eu representava e, me afastar seria a solução.

E se você, não pode vencer o inimigo, até porque, ele não se identifica e nem, lhe oferece a decência de uma luta limpa e transparente, nada lhe resta, além de se convencer de sua total incapacidade em se tornar um inconsequente.

Mas fugir, jamais...

Buscar amparo, junto a quem tudo assistiu e se omitiu, nem pensar, sobrando as forças que nos restam e hibernar, tão somente, para que os inimigos, tenham tempo de direcionarem suas mentes e interesses para outras direções, pois, se são inimigos perigosos, com certeza, também os tem.

Bem o tempo passou, sobrevivi, tudo se ajeitou e o hábito de hibernar frente a minha imediata incompreensão, se estabeleceu, fazendo de mim, não a mais inconsequente louca da contemporaneidade, mas apenas, uma sobrevivente desta savana absurdamente violenta que é a sociedade humana.

Agora, quase trinta anos depois, me vejo em meio as mesmas ameaças por razões diferentes, mas com os objetivos absolutamente iguais que é justo, calar-me.

Logo eu, porquê, se procuro ser ética e respeitosa em todas as minhas ponderações, afinal, existem verdadeiros explosivos no mercado que jamais sofreram qualquer tipo de represálias.

Pois é, credibilidade dona Regina...

Responde o meu próprio senso perceptivo, razão deste livro que ora escrevo e que é o resultado de um profundo senso de formação crítica pessoal.

Credibilidade no nosso país é como uma arma mortífera que é sem graça, não tem brilho, mas incomoda, fere e até pode matar, tão somente, apresentando a lógica do existente, num comparativo ético que influencia e, só extirpando como se um câncer fosse, para não espalhar suas metástases nas comunidades em que se encontram.

A história da humanidade mostra a realidade desta minha afirmativa, mas também mostra que “graças aos sem graças” esta mesma humanidade evoluiu.

Então, ajo da mesma forma, hiberno para analisar, tentando compreender os omissos e buscando forças nas mesmas forças que sempre me protegeram e que me inspiraram quanto aos caminhos que devo seguir, não sem deixar rolar lágrimas de decepção.

Recomeçar...

E o que é viver, se não um contínuo recomeço...

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