São quatro horas da manhã e até o momento, o galo do vizinho à distância não cantou, nenhum pássaro chegou ao jardim, mas a minha borboleta marrom fielmente permanece a meu lado, bem aqui no cantinho da sala de onde escrevo e juntas, esperamos o dia clarear, pois com ele, ambas receberemos uma nova luz neste caminho evolutivo, através da sempre certeza da existência de Deus.
Neste
instante em que acabo de acentuar a não chegada dos pássaros, eis que surge o meu
magnífico sabiá dando sinal de sua presença, mesmo não se deixando enxergar.
Insistente,
paro de escrever e olho atenta através da janela, tentando vê-lo, qual nada, o
sapeca está bem escondidinho e, certamente deve ter os seus motivos, até porque,
não emitiu mais nenhum ruido como uma provável pista.
Percebo que
estou com um pouco de falta de ar o que é comum em mim, quando me deixo
envolver pelas emoções que tomam proporções incríveis, justo, por serem como
ondas volumosas de conscientização, maiores que eu ou de qualquer outra
sensação que eu possa me ver envolvida, afinal, minhas mãos não são capazes de
acompanhar a rapidez de minha mente, quando esta, decide transcrever a vida em
toda a sua plenitude de graça e beleza, mesmo quando se apresenta como agora,
silenciosa e escura, mas detentora de todas as vibrações benditas deste
universo de meu Deus.
E então, constato
que na realidade não escrevo, apenas dedilho orações a cada amanhecer,
agradecendo pela vida singular que me foi oferecida em meio ao gigantismo do aparente,
apenas comum.
Percebo mais
uma vez que nada é comum nesta vida...
Tudo,
absolutamente tudo de verdadeira relevância me foi oferecido nesta minha
existência, com qual propósito?
Não sei
explicar, apenas sinto e agradeço rezando e me integrando sem reservas.
Esta
disposição e singularidade no pensar e no agir, abriu-me portas para o
inusitado, o belo e o encantador, também me escancarou o imponderável, o feio e
o assustador, como se os opostos tão distintamente presentes, me fossem explícitos
parâmetros, desafios contínuos às minhas opções do sim e do não.
Como não
amanhecer orando em agradecimento a um Deus que ao contrário do que pregam,
posso ver e sentir através das texturas, dos aromas e dos sabores que vivencio
a cada dia de minha longa vida, jamais permitindo-me banalizar a potencialidade
contida num simples gesto ou intenção, seja de um apenas humano como eu ou de
qualquer expressão de vida que diante de mim se anuncie?
Sim, sou
fiel em minhas orações matinais, pois é a única forma mais completa de
agradecer as infinitas atenções que recebo de mil formas e que me reforçam a
certeza de que através de meus olhos, ouvidos e sentidos, sou parte integrante e
vibratória desta maravilha que é a vida.
Já posso
escutar a orquestra que lá de fora, se integra ao som do piano que ouço, numa
sinfonia única que me é ofertada, tendo o abusado de meu sabiá, vez por outra
se fazendo notar, apenas para que eu não esqueça de que sou a pessoa mais amada
desta vida e que, através de minhas orações, atraio sempre o tudo de mais belo,
de mais inusitado e encantador, como fiéis companheiros de jornada, livrando-me
por todo o tempo dos antagonistas que possam se apresentar.
Bendito dia
que amanhece, bendita vida que me abraça.
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