sexta-feira, 19 de fevereiro de 2021

FIDELIDADE

 

São quatro horas da manhã e até o momento, o galo do vizinho à distância não cantou, nenhum pássaro chegou ao jardim, mas a minha borboleta marrom fielmente permanece a meu lado, bem aqui no cantinho da sala de onde escrevo e juntas, esperamos o dia clarear, pois com ele, ambas receberemos uma nova luz neste caminho evolutivo, através da sempre certeza da existência de Deus.

Neste instante em que acabo de acentuar a não chegada dos pássaros, eis que surge o meu magnífico sabiá dando sinal de sua presença, mesmo não se deixando enxergar.

Insistente, paro de escrever e olho atenta através da janela, tentando vê-lo, qual nada, o sapeca está bem escondidinho e, certamente deve ter os seus motivos, até porque, não emitiu mais nenhum ruido como uma provável pista.

Percebo que estou com um pouco de falta de ar o que é comum em mim, quando me deixo envolver pelas emoções que tomam proporções incríveis, justo, por serem como ondas volumosas de conscientização, maiores que eu ou de qualquer outra sensação que eu possa me ver envolvida, afinal, minhas mãos não são capazes de acompanhar a rapidez de minha mente, quando esta, decide transcrever a vida em toda a sua plenitude de graça e beleza, mesmo quando se apresenta como agora, silenciosa e escura, mas detentora de todas as vibrações benditas deste universo de meu Deus.

E então, constato que na realidade não escrevo, apenas dedilho orações a cada amanhecer, agradecendo pela vida singular que me foi oferecida em meio ao gigantismo do aparente, apenas comum.

Percebo mais uma vez que nada é comum nesta vida...

Tudo, absolutamente tudo de verdadeira relevância me foi oferecido nesta minha existência, com qual propósito?

Não sei explicar, apenas sinto e agradeço rezando e me integrando sem reservas.

Esta disposição e singularidade no pensar e no agir, abriu-me portas para o inusitado, o belo e o encantador, também me escancarou o imponderável, o feio e o assustador, como se os opostos tão distintamente presentes, me fossem explícitos parâmetros, desafios contínuos às minhas opções do sim e do não.

Como não amanhecer orando em agradecimento a um Deus que ao contrário do que pregam, posso ver e sentir através das texturas, dos aromas e dos sabores que vivencio a cada dia de minha longa vida, jamais permitindo-me banalizar a potencialidade contida num simples gesto ou intenção, seja de um apenas humano como eu ou de qualquer expressão de vida que diante de mim se anuncie?

Sim, sou fiel em minhas orações matinais, pois é a única forma mais completa de agradecer as infinitas atenções que recebo de mil formas e que me reforçam a certeza de que através de meus olhos, ouvidos e sentidos, sou parte integrante e vibratória desta maravilha que é a vida.

Já posso escutar a orquestra que lá de fora, se integra ao som do piano que ouço, numa sinfonia única que me é ofertada, tendo o abusado de meu sabiá, vez por outra se fazendo notar, apenas para que eu não esqueça de que sou a pessoa mais amada desta vida e que, através de minhas orações, atraio sempre o tudo de mais belo, de mais inusitado e encantador, como fiéis companheiros de jornada, livrando-me por todo o tempo dos antagonistas que possam se apresentar.

Bendito dia que amanhece, bendita vida que me abraça.


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