domingo, 21 de fevereiro de 2021

SABORES DE MINHA VIDA


 Nesta tarde, sentada na mesinha branca da varanda lateral, degusto uma das deliciosas e últimas carnudas e cheirosas mangas rosas de meu quintal.

Meu Deus, quase me é impossível descrever o prazer desta degustação de fim de tarde, ao som dos clássicos de Debussy e a visão de meu pezinho de acerola já sem nenhum fruto, mas que neste verão em muito contribuiu para que minhas referências de sabores se mantivessem vivas.

As pitangas neste ano me abandonaram e as frutas do conde, também, abrindo espaço para a mangueira, o limoeiro e é claro para as minhas encantadoras amoras que disputei arduamente com os pássaros abusados, mas de profundo bom gosto, isso não posso negar.

Degustando lentamente, uma a uma das fatias, reconhecendo a preciosidade de seu sabor, remeteu-me a outros momentos de minha vida, onde o belo se fez presente, pontuando instantes incríveis, não necessariamente em termos alimentares, mas de absoluta qualidade que de alguma forma, associo aos sabores alimentares, aos aromas inebriantes e as texturas inesquecíveis.

Nesta tarde, meio que doentinha, mas com a mente repleta de vitalidade, revigoro-me através das lembranças que me nutriram, formando em mim, um celeiro de paixão que me fortalece e me impulsiona à vida.

Volto à memória e me é impossível não lembrar das jabuticabas farturentas do mês de outubro em Ouro Preto, docinhas como mel a explodir na boca ou das jacas maduras de Guapimirim nos muitos verões que por lá passei ou dos cajus rasteiros do serrado de Brasília.

E ao lembrar das deliciosas frutas, como esquecer dos agitados esquilos do sítio de caeté que, simplesmente, deixavam loucos os cachorros e das maritacas que como um relógio pontualíssimo, chegavam em bando, numa estrondosa algazarra, para saborearem os abacates nos finais de tarde, fruta que apesar de apreciar a textura e o aroma, jamais tive afinidade com o seu sabor.

Hummm! Deliciosa é a manga que saboreio, pensando que assim como as pessoas, quando completas, saciam nem que seja, tão somente através das analogias que somos capazes de fazer com seus sabores, aromas e texturas, remetendo-nos a um enorme e inenarrável prazer e saciamento emocional.

Feliz de mim que sou capaz de com minha apenas imaginação e lembranças, ir e vir nas memórias, enriquecendo o aqui e agora.

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