Nesta tarde, sentada na mesinha branca da varanda
lateral, degusto uma das deliciosas e últimas carnudas e cheirosas mangas rosas
de meu quintal.
Meu Deus,
quase me é impossível descrever o prazer desta degustação de fim de tarde, ao
som dos clássicos de Debussy e a visão de meu pezinho de acerola já sem nenhum
fruto, mas que neste verão em muito contribuiu para que minhas referências de
sabores se mantivessem vivas.
As pitangas
neste ano me abandonaram e as frutas do conde, também, abrindo espaço para a
mangueira, o limoeiro e é claro para as minhas encantadoras amoras que disputei
arduamente com os pássaros abusados, mas de profundo bom gosto, isso não posso
negar.
Degustando
lentamente, uma a uma das fatias, reconhecendo a preciosidade de seu sabor,
remeteu-me a outros momentos de minha vida, onde o belo se fez presente,
pontuando instantes incríveis, não necessariamente em termos alimentares, mas
de absoluta qualidade que de alguma forma, associo aos sabores alimentares, aos
aromas inebriantes e as texturas inesquecíveis.
Nesta tarde,
meio que doentinha, mas com a mente repleta de vitalidade, revigoro-me através
das lembranças que me nutriram, formando em mim, um celeiro de paixão que me
fortalece e me impulsiona à vida.
Volto à memória
e me é impossível não lembrar das jabuticabas farturentas do mês de outubro em
Ouro Preto, docinhas como mel a explodir na boca ou das jacas maduras de
Guapimirim nos muitos verões que por lá passei ou dos cajus rasteiros do
serrado de Brasília.
E ao lembrar
das deliciosas frutas, como esquecer dos agitados esquilos do sítio de caeté que,
simplesmente, deixavam loucos os cachorros e das maritacas que como um relógio
pontualíssimo, chegavam em bando, numa estrondosa algazarra, para saborearem os
abacates nos finais de tarde, fruta que apesar de apreciar a textura e o aroma,
jamais tive afinidade com o seu sabor.
Hummm!
Deliciosa é a manga que saboreio, pensando que assim como as pessoas, quando
completas, saciam nem que seja, tão somente através das analogias que somos
capazes de fazer com seus sabores, aromas e texturas, remetendo-nos a um enorme
e inenarrável prazer e saciamento emocional.
Feliz de mim
que sou capaz de com minha apenas imaginação e lembranças, ir e vir nas
memórias, enriquecendo o aqui e agora.
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