São quatro e trinta da manhã e o silêncio esta absoluto, nem o galo a distância, nem o sabiá na amoreira e sequer como de costume neste horário, posso escutar os pássaros em bando se aproximando.
O que será que está acontecendo?
Nem os cães dos vizinhos latem...
A escuridão é total, como se de repente, o mundo tivesse parado e somente o barulhinho das batidas de meus dedos nas teclas do notebook e o girar monótono do ventilador existissem atuando.
Creio que o melhor que posso fazer é colocar bem baixinho, Chopin, para quem sabe, suas notas musicais possam ir de encontro a toda uma vida que lá fora, por alguma razão que desconheço, ainda durma preguiçosamente.
Nem música posso colocar, pois até a internet silenciou suas atividades e nesta situação esdrúxula, só me resta esperar pacientemente, mesmo reconhecendo que sem meus parceiros da madrugada, tudo fica mais difícil e sem graça.
Neste exato instante, posso ouvir bem fracamente um pássaro muito ainda a distância, parece-me sozinho. Aguço os ouvidos para ouvi-lo melhor, no desejo ardente de que logo se chegue, pois estou sentindo a falta de uma deliciosa companhia.
Que pessoa estranha eu sou, afinal, mesmo amando permanecer em meu canto solitariamente escrevendo, lendo ou simplesmente contemplando, preciso estar cercada de meus sons amigos, dos meus aromas, velhos e adoráveis conhecidos e se por algum motivo que desconheço como o de agora, resolvem
todos se ausentarem, sinto-me assustadoramente vulnerável, buscando a cada instante, através da janela, pelo menos poder enxergar uma, por menor que seja claridade, para poder enfim, ter um novo dia como companhia.
Finalmente, os cães começaram a latir e o tal pássaro que ouvi a distância, vem se aproximando sem qualquer pressa, acho mesmo que retarda, esperando o resto do bando, mas já posso escutá-lo sem tantos esforços auditivos.
Mas cadê o sabiá, safado e barulhento, que deveria estar neste horário, fazendo o seu solo estridente, lá da amoreira?
E o galo das seguidas madrugadas?
Será que foi vendido ou serviu de almoço para o seu dono? Os tempos estão bicudos e, de repente...
Onde estão os raios de luz que neste horário, há muito já teriam me dado bom dia, estampando-se lentamente no horizonte?
Que bom, que bom, meu sabiá chegou!!!!
Piou duas vezes e se calou, mas pelo menos já não estou sozinha.
E também já posso ouvir o bando se aproximando, numa arruaça de sons, se bem que ainda à distância.
Um bem-te-vi, também já adentrou no quintal, fazendo um certo barulho que mais me parece um ensaio para o próximo espetáculo e, enquanto registro toda esta maravilha se fazendo presente, olho através da janela e posso, encantada perceber que a luz de um novo dia, começa a clarear o céu.
Valeu toda esta espera de mais de quase quarenta minutos e duas laudas de lamentações para finalmente, poder estar na companhia dos meus mais fiéis companheiros dos amanheceres de minha vida.
Mas o sabiá, continua em silêncio, sequer posso garantir que ainda esteja por aqui.
Muito temperamental e esperto é este meu encantador companheiro... Seu jeito ora arredio, ora impositivo, ora alegre e cantador, cria um delicioso mistério que, simplesmente me é adoravelmente apaixonante e ele, safado, sabe muito bem disso...
Afinal, ambos somos sensitivos e detestamos o fácil, o comum e o sem graça.
São cinco horas e vinte e um minutos e diferentemente dos dias anteriores, somente agora, mesmo ainda muito fraquinha, a luz de um novo dia resplandece no horizonte, levando os músicos desta orquestra fantástica a afinarem seus instrumentos, gargantas benditas que me fascinam.
Incrível...A cada ir e vir de minha cabeça, minha visão se surpreende com a rapidez das mudanças, o dia agora parece ter pressa em se mostrar, já exibindo mesclas de coloridos tênues e de onde estou, o cenário da vida se mostra ainda tímido, mas pelo menos presente, alegrando-me totalmente, fazendo valer, cada instante da espera.
Bendita vida que sempre chega.
Bendita sou eu, que viva estou para espera-la.
Bendito é você, que me lê neste instante... Mesmo com o atraso da internet, como sempre a última a chegar.
Nenhum comentário:
Postar um comentário