O silêncio só é quebrado pelo som suave da misteriosa música clássica e pelos pássaros com os quais ainda não me familiarizei, mas que ouço e me confesso encantada. Penso então, no quanto fui privilegiada por ter tido uma mãe e irmão, altamente sensíveis ao acolhimento selecionadíssimo das músicas que pautaram a minha formação de pessoa num Rio de Janeiro efervescente dos anos 50/60, onde tudo de novo acontecia, inclusive uma ditadura militar que muitos se chocam, por ela não ter atingido a minha família e muito menos a mim que cresci em meio ao gigantismo de uma Ipanema e de uma Teresópolis, distintamente tranquilas e elegantes, tendo como vizinhos o Marechal Eurico Gaspar Dutra e o General Lot.
Em meio ao ruído já naquela época ensurdecedor das ruas, onde o grito da violência política parecia ecoar mais alto do que qualquer palavra de ternura, a música em minha casa surgia como um sopro de paz, alimentando o essencial, moldando a minha sensibilidade, mantendo viva e prioritária a chama da humanidade que, tantas vezes, como enfatizava meu pai, parecia ameaçada pelo caos partidário.
Cada acorde, cada melodia, era como uma âncora que nos impedia de naufragar na indiferença que começava a se formar, mudando hábitos e costumes. Nas canções que embalaram a minha infância, aprendi valores invisíveis: a partilha, a escuta, o compasso da convivência. No canto partilhado na Escola Carneiro Ribeiro, descobri que a harmonia só se alcança quando vozes distintas aprendem a se respeitarem.
Hoje, quando vejo e ouço os noticiários trazendo mais lamentos do que esperanças, a música tornou-se refúgio e, ao mesmo tempo, arma delicada contra a brutalidade. Ela, não apaga a violência, mas nos recorda que ainda é possível dançar, sonhar, criar beleza. Onde o medo ergue muros, a música abre portas.
Nesta segunda-feira, numa cidade ainda desconhecida pra mim, acordei pensando no quanto, podemos virar o jogo cruel social no qual, querendo ou não, estamos todos inseridos e no quanto, somos responsáveis por mantê-lo, muda-lo ou suavizá-lo, apenas com o nosso comportamento pessoal.
Respiro fundo e penso na necessidade urgente em formar-se crianças humanas, induzindo-as a “sentirem” através da música, já que nada educa mais as emoções, como o som que nos atravessa. Talvez seja por isso que, em meio à derrocada dos valores éticos, ainda nos encantamos no compasso de um violão, no batuque improvisado do tambor, no coro que irrompe nas igrejas e templos religiosos.
Afinal, a música com seu poder envolvente nos devolve ao essencial: lembra-nos de que somos frágeis, mas também capazes de criar harmonia no meio da dissonância.
BOM DIA!
Regina Carvalho- 18.8.2025 Tubarão- S.C
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