terça-feira, 5 de agosto de 2025

As Marés das emoções

Acordei nesta terça-feira, como sempre, agradecendo ao meu querido São Jorge, parceiro universal de minha vida, que desde que sou capaz de lembrar, jamais me deixou sozinha, socorrendo-me quando necessário e colaborando intensamente com as minhas mais difíceis escolhas.

Quando penso e clamo pelo meu São Jorge, sua imagem surge imediatamente transfigurada como Guapimirim ou como as Praias de Ipanema, repleta do verde que me envolve e do barulho das incansáveis ondas, que imediatamente me acalmam, transformando-me em um ser fiel e confiante, sabedora de que meu parceiro atuará em meu favor, revestindo-me da bendita paz, senhora única e absoluta, a fim de ofertar-me a não menos importante sabedoria para que eu possa discernir o que mais me convém.


Foi lá no paraíso de minha infância que senti a força e as variantes de minhas próprias emoções, criadoras incríveis de meu prazer e bem-estar, transformando-me em uma egoísta contumaz, através do vício dos prazeres que me faziam feliz, mesmo que pudessem parecer surreais ao outros.

Todavia, foi no mar de Ipanema que aprendi a identifica-las, através da constância variável dos beijos que ofertava as areias da praia, ora suave e envolvente, ora nervoso, puxando para as suas profundezas, tudo a depender de suas marés, mas foi nos rochedos da grupa da imprensa,  na av. Niemeyer, entre a praia de S. Conrado e o acesso ao Vidigal e nas pedras da praia do Arpoador que conheci a sua impetuosa braveza, estilhaçando-se dia e noite sem sequer um único descanso e que me inspirou a escrever a minha primeira poesia, “Eu e o mar”, com apenas quatorze anos.

Portanto, Guapimirim e Ipanema, foram determinantes influenciadores na minha escolha literária, mas foi nas marolas mansas e suaves da bendita praia de Ponta de Areia em minha amada Itaparica que encontrei a paz e fiz das emoções humanas, mais que uma curiosidade ou estudo, tão somente o meu sacerdócio, afinal, compreendi que cada ser humano na realidade era uma narrativa em movimento, trazendo consigo um enredo herdado dos antepassados, inscrito em seu código genético, misturado às memórias, traumas, vitórias e fracassos que se acumulam ao longo da vida. É como se cada emoção fosse uma lente, distorcendo ou clareando a paisagem conforme o momento.

Simplesmente fascinante...

A raiva, por exemplo, pode parecer destrutiva e muitas vezes é. Mas também pode ser um grito de justiça não ouvida, uma centelha de transformação. A tristeza, tão temida, não é só dor; é também pausa. Um espaço de recolhimento, de escuta. Um abrigo onde se reorganizam os pedaços depois de uma queda, talvez por isso as emoções se movam como as marés, indo e vindo, às vezes com força de tempestade, outras como brisa suave num fim de tarde de verão. 

A alegria, essa sim, costuma ser bem-vinda. Mas é curioso como, por vezes, nos sentimos desconfortáveis com ela, como se não a merecêssemos por completo. Talvez porque fomos ensinados a temer os altos, como se fossem prenúncio da queda.

E o amor... ah, o amor. Nenhuma emoção é tão universal e ao mesmo tempo tão particular. Ele nos revela e nos expõe. É um espelho onde vemos o melhor e o pior de nós mesmos, tudo ao mesmo tempo.

As emoções humanas não são fraquezas. São bússolas. Indicam o que importa, o que dói, o que falta, o que é excesso. Ignorá-las é andar às cegas. Compreendê-las é um ato de coragem.

Talvez nunca as dominemos por completo. Mas talvez o segredo esteja em aceitar que somos, todos nós, criaturas feitas de marés instáveis, mutáveis, mas profundamente humanas.

Regina Carvalho- 5.8.2025 Tubarão- S.C

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