Nesta quinta-feira, minha mente despertou pensando no “medo” que já senti em algumas ocasiões e que levei muito tempo para finalmente reconhece-lo, afinal, estava em sua maioria, disfarçado de outras emoções, sendo o mais comum, a prudência. Como filha praticamente única e rapinha do taxo, fui ensinada desde cedo a ter cuidado: cuidado com o que diz, em quem confia, com o que tenta. Apesar de reconhecer que sim, a precaução é valiosa, evita quedas, frustrações e perigos. Todavia, como jamais fui muito “normalzinha”, também logo percebi a existência de uma linha ténue entre ser cauteloso e viver prisioneiro de um medo que me paralisaria.
Então, após por medo, travestido de razão, que me fez, recusar e em seguida me deixar frustrada, passei a encará-lo, medindo cuidadosamente os riscos e a minha capacidade em pagar o preço, caso verdadeiramente, fosse, digamos, uma furada, afinal, a recusa em participar de uma reportagem no “Alto Xingú” na companhia de dois companheiros de trabalho em Brasília nos anos setenta e que foi inédita e de estrondoso sucesso, permanece até hoje, como um marco limitante que me impediu de aos 24 anos, saltar para uma esfera de destaque em minha profissão que estava ainda no começo.
A verdade é que o medo adora vestir o traje da razão. Apresenta-se como sabedoria, quando, na realidade, muitas vezes é apenas insegurança camuflada. No meu caso, a distância, o bimotor, os índios que eu só tinha lido e visto em filmes, mas principalmente a malária, travaram-me ao ponto de nem meus pássaros e borboletas, oferecendo-me companhia e carona segura, me convenceram.
Quantas vezes recusámos uma oportunidade, não por ser de facto arriscada, mas porque o medo nos sussurrou: “E se não der certo?” A verdade é que o medo adora vestir o traje da razão. Apresenta-se como sabedoria, quando, na realidade, muitas vezes é apenas insegurança camuflada.
Aos poucos fui me libertando, já que fui compreendendo que a precaução cuida, enquanto o medo controla.
A precaução observa, pondera e age com consciência. Já o medo congela, cria desculpas e cultiva arrependimentos futuros. O maior problema do medo não é o que nos impede de fazer, mas o que nos impede de ser.
É claro que há riscos reais, mas será que não corremos riscos ainda maiores, quando deixamos de viver plenamente? Quando deixamos de amar por medo, de tentar seja lá o que for, por medo do fracasso, de ser quem somos por medo do julgamento ou o que é pior, quando fazemos de um fracasso, modelo que adoramos chamar de “experiência”?
A vida pede-nos coragem. E coragem não é ausência do medo, mas é, justamente, agir apesar dele. Que saibamos distinguir a voz amiga da precaução dos gritos ansiosos do medo. Porque quem vive só na segurança, raramente vive em liberdade.
Sim, é importante pensar duas vezes. É importante medir passos, olhar para os dois lados antes de atravessar. Mas há uma diferença enorme entre precaução e paralisia.
A precaução protege.
O medo aprisiona.
Quantas oportunidades deixámos escapar porque ouvimos aquela vozinha interior a dizer “não é seguro”.
Quantas vezes chamámos de “realismo” o que era, na verdade, receio de sair da zona de conforto?
A verdade é que viver exige algum grau de risco. Amar exige coragem. Mudar exige fé. Sonhar, então, nem se fala...
Regina Carvalho- 7.8.2025 Tubarão- S.C.
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