Em 1982, Ney Matogrosso cantou com voz de denúncia e sedução aquilo que todos sabiam, mas poucos ousavam dizer: muita coisa no Brasil acontecia por debaixo dos panos. Era o tempo dos gestos disfarçados, dos acordos selados no silêncio, dos podres cuidadosamente empacotados em discursos polidos.
A política era uma coreografia milimetricamente ensaiada. O público via a dança bonita no palco, mas ignorava ou fingia ignorar o que se passava nas coxias. Corrupção havia, claro. Mas havia também o cuidado com a aparência, o zelo pela máscara. A vergonha, ainda que fingida, existia.
Quatro décadas depois, o pano caiu. E com ele, caiu também o pudor, a decência e a vergonha na cara.
Vivemos hoje uma era do escancaramento. O que antes era escondido, hoje é exibido com gosto e com gosto pelas câmaras. A ética virou tendência, não obrigação. A confissão pública de um crime ou de uma falha moral não causa mais constrangimento, mas engajamento. Quanto mais chocante a fala, maior o alcance. Quanto mais grotesco o ato, maior a fidelidade da base.
O político não precisa mais de bastidores. Faz do escândalo seu palco e do povo, sua audiência cativa. E o povo cansado, indignado, mas também distraído, ri e a depender da boquinha do empreguinho que desfruta, principalmente nas pequenas cidades, defende e se torna cumplice, dançando suado atrás do trio elétrico, se alienando com as músicas cantadas por suas bregas atrações da hora, contratados a peso de ouro, através dos desvios notórios do erário da saúde, educação e de um tudo mais, que o estimula a votar de novo e de novo, muitas vezes, por uns trocados a mais na tal da “boca de urna”, reelegendo o mesmo carrasco de seus direitos.
E aí, o que podemos esperar do futuro?
Talvez, paradoxalmente, esse excesso de exposição traga de volta o valor do silêncio. A saturação do absurdo pode, quem sabe, abrir caminho para um novo tipo de pano, não para esconder, mas para filtrar, proteger, discernir.
Talvez, voltemos a valorizar a verdade dita com compostura, a decência que não precisará de aplauso, e de um serviço público que não se confunda com os espetáculos de quinta categoria.
Enquanto isso, resta-nos observar e escolher: queremos de volta o pano para esconder ou um novo tecido para proteger o que sobrou de dignidade?
Dignidade, será que sobrou alguma?
Regina Carvalho-2.8.2025 Tubarão S.C
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Votem em mim, já que faço pracinhas, promovo festas, te faço de trouxa e sou chique, não te escondendo nada, meu povo!!!!
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