Sou originária de uma família, que por sua vez, originou-se de outras duas, onde as mulheres eram terríveis no tocante a andarem na contramão do sistema de suas épocas, portanto, com tantos exemplos, uma observadora nata como eu, não poderia ser diferente.
Confesso que até tentei ser a mocinha comportada, uma parideira impecável, mas Jesus... Isso me sufocava...
Meu rio caudaloso e repleto de vertentes, vez por outra, movida pela força da sua própria natureza, adentrava no fascinante desconhecido, independentemente dos seixos que encontraria pelo caminho.
Jesus, como nadei e de quanto fôlego necessitei...
Até porquê, os verdes das margens também me atraiam e repousar meu corpo e mente cansados, sempre foi um prazer inenarrável de reabastecimento pessoal, num somatório de realizações.
Hoje, posso entender com serenidade as imposições que estas mesmas mulheres impunham a mim, afinal, temiam que eu não suportasse o custo dos desafios que elas conheciam, por já terem pago, mas os parâmetros de suas posturas me eram muito envolventes...
Suas bocas ensinavam-me o justo contrário de suas atitudes e vê-las plenas, me era inspirador...
Tentei seguir as regras, mas estava na genética uma “força estranha” que me inspirou um livro escrito em 1975, onde registrei o meu poderoso chute no balde dos comportamentos mofados que esperavam de mim, o que me rendeu uma vida riquíssima.
Como então, temer a morte se fiz da minha vida um renascer contínuo?
Benditas as margens, benditas as águas volumosas, bendita curiosidade que afastou de mim o medo de viver, mas não a lógica da sobrevivência aliada ao prazer e ao amor.
Limites associados ao bom senso, indispensável até mesmo para uma transgressora social.
Liberdade é um caminho que exige braçadas fortes, atenção e muita resistência para vencer as correntezas, os rodamoinhos e as incessantes ondas engolidoras que certamente existirão nas águas mais distantes da inicial serenidade a beira mar ...
Afinal, o destino dos rios é o poderoso mar.
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