Novembro a
um passo de findar, o que para mim é o disparador sorrateiro de um conjunto de
sensações nada agradáveis em relação ao mês de dezembro.
Tudo muito
surreal, já que jamais sofri qualquer tipo de aflição neste período, muito pelo
contrário, afinal, sou de uma época em que o período natalino era de festas
fartas em família, onde o lúdico ainda encontrava acolhimento e muito mais
afeto às mentes infantis, bem mais que propriamente presentes.
Todavia,
confesso que jamais gostei, não apenas do Natal e Ano Novo, mas de qualquer
data determinante a se comemorar, isto ou aquilo, mesmo reconhecendo serem
necessárias para conscientizações sociais e mesmo como aglutinação de
propósitos.
Bem, se
fosse fácil o entendimento, não estaria ano após ano relatando o meu incômodo.
Como todo
mundo, faço ceia, mas sem qualquer empolgação maior, e isto é frustrante, pois
não vejo sentido em ter que se esperar um ano inteiro para, então, reunir,
sorrir, beber e comer determinadas iguarias e ainda receber e oferecer
presentes, apenas por obrigação, muitas vezes sem qualquer condição financeira,
criando angustias e endividamentos na maioria das pessoas.
Isso sem
falar que no dia seguinte, a fraternidade que deveria permanecer ou pelo menos
aflorar em cada criatura humana, ao contrário, se dissipa como folhas ao vento
e voltam-se todos aos seus mundinhos isolados e egocêntricos, ficando o tão
bonito e afetuoso espírito amoroso, guardado a sete chaves até o próximo natal.
Essa
síndrome que me domina, também tem seu lado produtivo, afinal, fez desenvolver
em mim a capacidade de poder sorrir, brindar e presentear, quando sinto
necessidade e principalmente prazer, e aí, também inexplicavelmente, desperto nos
meus semelhantes afins o mesmo sentimento descontraído e absolutamente
espontâneo, o que tem me garantido sorrisos, abraços e significativos gestos de
delicadeza, tudo muito gratificante, levando-me a concluir que o espírito
natalino é, antes de tudo, o prazer inenarrável de podermos doar e também receber,
tão somente, sinceridade.
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