Enquanto
cursava filosofia, dividi espaço universitário com inúmeros seguidores de
religiões que cultuam o Diabo como forma dele se defender.
Pode uma
coisa dessas?
Até então,
não havia prestado atenção neste tipo de culto, mas sinceramente, depois deste encontro
involuntário com os adoradores de Satã, não saí impune e precisei buscar um
mínimo de entendimento de tamanha incoerência, já que me pareceu sem qualquer
lógica o convívio destas criaturas com a filosofia e, ao mesmo tempo, suas
crenças religiosas.
Bons anos
depois, nenhuma razoável conclusão, fico pensando, que talvez, o medo de viver
se assemelhe mais ao Diabo devastador, ficando Deus como uma ficção, figura lúdica,
merecedor de retóricos cânticos e orações, escudo de proteção de uma suposta
força dominadora que persegue, fazendo sofrer impiedosamente.
Mas aí,
também penso na ineficiência de Deus e na eficácia do Diabo, já que mesmo sendo
acirradamente combatido, persiste, resistindo bravamente ao poderoso Deus, numa
medição de forças contínuas e multiplicando sistematicamente a diversidade de
seus ataques, apesar de perceber que todos sempre embasados no medo irracional
da criatura humana em viver, abrindo-se despudoradamente para as delícias que o
envolve, sentindo e absorvendo e em contrapartida doando, num entrelace de
liberdade em aprender e ensinar.
Soterrar o
medo incomensurável que devora instantes preciosos de plenitude é impensável,
pois requer arriscar-se para a desconhecida liberdade de ser e apenas existir,
despindo-se das irrealidades que de tão envolventes se tornam elixires comparáveis
às drogas e prazeres instantâneos, mas que também fazem sucumbir as belas e
fascinantemente duradouras floradas existenciais.
E nesta
busca de compreensão, deparo-me tanto nos livros que relatam a história da
humanidade ao longo dos tempos, como a cada instante sistêmico, divido espaço
com esta mesma humanidade na qual me insiro, reconhecendo que somos os únicos
seres sobre a terra, incapazes de usufruí-la sem o terror constante de um Diabo
que corrompe e faz sofrer e, ao mesmo tempo, de um Deus que consola, mas não
liberta.
Forma
inexplicável de existir.
Nenhum comentário:
Postar um comentário