Para quem
olha de fora, a vidinha de um escritor é bastante medíocre e, geralmente,
solitária. Ledo engano, afinal, como ser solitário se o mundo está nas
infinidades de letras que trazem para a possível realidade velhos desejos que,
sem elas, seriam sempre, apenas, sonhos.
O escritor
voa com os pássaros, banha-se nos mais caudalosos rios, navega por mares calmos
ou bravios, escala as mais altas montanhas, percorrendo encantado as mais belas
grutas encruadas na terra e é capaz, de como ninguém, deitar-se na relva fresca
e apreciar o céu, sentindo o calor do sol, quase queimar suas retinas ou
deixar-se molhar pelas grossas chuvas do inverno.
Com as
letras, o escritor escava terras secas, fazendo soltar delas, as esmeraldas e
diamantes que só a vida pode oferecer e, ainda com as mãos sangrando e com as
unhas lascadas, colher uma flor e oferecer a alguém, sem que o sangue que de
seus dedos escorre, macule a delicadeza de seu gesto.
Ser escritor
é amar a vida até mesmo quando escreve sobre a morte. É deixar escoar em frases
e versos, os lamentos das decepções, as dores da incompreensão, as lágrimas das
sempre possíveis dores.
Ser escritor
é cantar a vida como se cada instante fosse um soneto, cada hora um poema, cada
dia um lindo conto, recusando-se por todo tempo a abraçar o banal, o fútil e
nada a haver.
E quem ainda
quiser pensar que a vida do escritor é monótona e sem graça, recomendo que
busque a ventura de, pelo menos por instantes, fazer das letras o seu mundo,
das palavras o seu universo.
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