Falar do sol
que já invadiu a minha cozinha, cobrindo também a mesa da copa como um manto de
luz dourada é, com certeza, uma grata alegria que se renova a cada primavera.
Falar do sol
é o mesmo que falar da vida, e não há nada que mais me motive do que falar
destes instantes presentes que venho vivenciando há décadas, não permitindo
jamais que o enfado, o cansaço e as decepções, empanem o seu original de
encantamento.
Olho para
trás e não consigo encontrar qualquer resquício de perdas, mesmo hoje
reconhecendo que foram muitas, e fico pensando, que talvez, isso se deva porque
de alguma forma meio que intuitivamente fui enterrando-as em um solo fértil de
determinação em não interromper a caminhada e, tão pouco, cobri-la com os
escombros das minhas inconsequências muitas vezes, o que, certamente,
dificultaria o meu livre caminhar.
Satisfiz-me
em todas as ocasiões vivendo intensamente cada circunstância, fosse agradável
ou não, partindo em seguida para uma nova jornada, tendo a preocupação de
deixar a bagagem em cada situação mais leve, pois também fui percebendo que quanto mais
livrava-me de coisas e emoções inúteis para o meu caminhar, mais suaves se
tornaram minhas pisadas, menos marcas profundas fui imprimindo, até ao ponto de,
neste momento, olhar para trás e praticamente não conseguir enxergar minhas
últimas passadas, levando-me a acreditar que em dados momentos, que reconheço
têm se intensificado, flutuo em meio aos tumultos e correrias à minha volta.
Como não
pensar, olhando para este sol translúcido, naqueles que não quiseram ou não
puderam dar continuidade às suas vidas, findando-as, às vezes, muito precocemente.
Quantas
emoções perdidas, quantos sóis não sentidos, quantas bagagens não foram abandonadas
ao longo de suas caminhadas, quantas chances de vida e liberdade foram
desperdiçadas.
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