domingo, 19 de novembro de 2017

PALCO DE LUXO


E aí, confesso que ser uma observadora é sempre muito doloroso, mas fazer o quê, se não me é possível partir ou frear o senso de lógica que permeia a mente?
Estou falando mais uma vez sobre a forma sem sentido prático com que acolhemos nossos pretensos representantes, seja do legislativo, executivo ou judiciário de qualquer nível.
Tratamos os candidatos como se fossem talhados de algum material especial, jamais igual ao nosso. Oferecemos os salamaleques mais requintados, colocando-os em pedestais de importância, superestimando suas intenções e, ao mesmo tempo, expondo nossas bobices em acreditarmos que, realmente, o cidadão fará algo palpável para nossa cidade ou pelo menos por nós.
Na maioria das vezes, até conhecemos o seu histórico político, mas deixamos de avaliar a nós mesmos, porque ao invés de cobrar planos específicos que venham agregar valores sociais à cidade, ficamos como alienados, oferecendo o campo do genérico, onde eles surfam divinamente e, ao irem embora, pois, todos vão, ficamos como alienados sem qualquer subsídio real que justifique o nosso voto. Só mesmo os vereadores ou candidatos a algum cargo eletivo que sonham com uns trocados a mais que, certamente, será distribuído por ocasião do pleito eleitoral.
Transformamos os candidatos em semideuses, nos curvamos em benevolências ao ponto de ser possível enxergar-se nossos redutos íntimos e, depois que são eleitos, ainda esperamos que se sintam nossos representantes.
Quanto primarismo e submissão por estarmos sempre ávidos para eleger mais um ídolo, colocando-o no poder, oferecendo a ele, status, dinheiro, relações monásticas de bandeja ao preço de meia dúzia de promessas decoradas de discursos batidos, mil vezes já ouvido, mas que o nosso atavismo cultural nos impede de reconhecer.
Mas o pior de tudo é que em meio ao inflamado discurso, vez por outra, o pretenso futuro monarca dos bens públicos, solta pérolas ofensivas à nossa simplicidade que é explicita e sequer nos apercebemos, pois estamos inebriados, admirando aquele que por esta ou aquela razão idiota ou interesseira, receberá não só o nosso voto, mas todos os votos que conseguirmos angariar para ele, nos papos de esquina.
Nada como ouvir os discursos à distância, sem o envolvimento das presenças carismáticas do cidadão que antes de tudo é um tremendo cara de pau que bem sabe o que faz, no foco de seus objetivos.
E depois, quando eleito e nossas perspectivas se veem frustradas, viramos o disco e nos colocamos a queimar o Judas, cobrando o que ele jamais prometeu, apenas utilizou-se de nossa sempre frustração para nos garantir ludicamente, o que jamais pretendeu cumprir.
E o ciclo se movimenta a cada eleição, soterrando Deuses, elegendo outros, não havendo qualquer sentido prático e produtivo para nós, povinho das fotos tiradas entre os aplausos, das bandeiras e do trio elétrico que permanentemente nos fazem dançar.

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