quarta-feira, 1 de outubro de 2025

BRASIL – PLANETA DE EXPIAÇÃO

Perdi o sono. Aliás, pensando melhor, já perdi mais noites nos últimos três meses em Tubarão do que nos últimos cinco anos em Itaparica.

Será pela falta dos meus pássaros, do quintal, do cheiro de maresia? Ou pelo farfalhar dos coqueiros que já não ouço mais?

Quem sabe seja a saudade dos arrepios provocados pelas brisas, quando, logo cedinho, eu abria as janelas para saudar um novo dia.

Talvez seja por não mais sentir o cheirinho de terra molhada quando chovia,  já que, por aqui, onde só há pedra e asfalto, os meus sentidos viciados estejam carentes.


Provavelmente, aliado a toda esta carência, haja também a sofrência de um país confuso, seu povo vagando em meio às brumas das inverdades nos mares das incertezas.

O que antes era conquistado na labuta, em busca de excelência, hoje é pago em migalhas a inertes sem qualquer propósito, frutos da miserabilidade moral e ética, futuros doutores da incompetência.

Nada mais é confiável. Nada mais é respeitado. Nada mais tem valor real. E isso leva-me a pensar que vivo num país de expiação.

A mídia propaga o mundo da fantasia, do engodo e da mentira, fazendo de mim e de você reféns da vagabundagem e da safadeza travestidas de autoridade, de “gente fina” e do escambau que, em tempos passados, seriam apenas meliantes cafonas, emergentes sem formação sólida, gente sem eira nem beira, fácil de identificar.

Gasolina batizada. E, se não bastasse, até a minha vodca, está sendo adulterada.

Tenho perdido, agora compreendo, muito mais do que o sono…

O que farei da minha vida se apagarem em mim o que me resta de esperança?

Serei mais uma vagando como zumbi pelas avenidas, desfilando em alguma escola de samba ou seguindo os trios elétricos da hipocrisia?

— Regina Carvalho

Tubarão – SC, 1.10.2025

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