TENAZ RESISTÊNCIA

Como já aconteceu em outras ocasiões, acabo de perder um texto que intitulei Resistência à flor da pele. Portanto, chorar não seria a solução mais viável, resta-me apenas reescrevê-lo.

Olhei-me no espelho e observei novas rugas na região do queixo. Com as mãos, estiquei-as para os lados, imaginando-me sem elas. Mas fazer o quê?

Sorri ao pensar que, dos males, este é a menor que a velhice brasileira precisa enfrentar em seu cotidiano. E mais ainda se compararmos com as agruras dos jovens que, em sua maioria, já nascem desprovidos de tudo o que poderia oferecer-lhes oportunidades mais dignas de vida.

Então, reclamar das rugas... por quê?

Penso imediatamente nas “chupetas açucaradas” que, neste ano de 2025, véspera das eleições federais, estão sendo oferecidas com o propósito de estimular a permanência dos jovens nas escolas que, atávicas, nada mais representam de reais atrativos a essa juventude cada vez mais sem quaisquer perspectivas de futuro.

Um futuro que nós, os velhos de hoje, tivemos, mesmo vivendo sob um regime político de ditadura militar.

Que coisa, viu!

Antes que alguns me atirem pedras carregadas de argumentos, afirmando que defendo ditadura, onde os índices comparativos mostram a extrema desigualdade que existia, lembro aos defensores da manutenção da escravidão intelectual, física e emocional que os números se igualam ao aumento populacional. Com uma profunda diferença: a afrontosa e minguada distribuição de “ração” dá-se aos animais antes de seus abates — que, no caso, são as eleições, a fim de mantê-los vivos e finalmente úteis, quando se deveria oferecer-lhes escolas com base sólida de estruturação educacional, para que nelas se desenvolvesse o bendito senso crítico que nós, os velhos atuais, ainda trazemos conosco.

Perdi o texto, que reconheço era mais completo. Mas fazer o quê?

Penso, então, que se consigo, a cada dia, receber um “Oscar” pela sobrevivência, através das mãos da indiferença, do orgulho e dos preconceitos, perder um texto, ter rugas e limitações motoras são apenas detalhes. Detalhes fáceis de serem relevados.

Regina Carvalho – 17.10.2025 – Tubarão (SC)