Numa era de gente feliz e de bem com a vida e com tudo o mais, confessar-se borocoxô é quase um crime, no mínimo uma contravenção.
Que é isso, dona Regina? Logo a senhora, poeta de berço, humanista de coração e resiliente por opção, declarar-se de saco cheio?
Pois é… Acontece de vez em quando, com pessoas longevas como eu, que se esqueceram de morrer ou são teimosas o suficiente para permanecer nesta vida que, se por um lado é simplesmente fantástica, por outro, meu Deus, só mesmo ouvindo a guitarra de Eric Clapton num blues-rock, a fim de espantar os urubus que incansáveis sobrevoam mentes e almas em tentativas contínuas de arrastá-las para suas searas de chorumes existenciais.
E aí, por mais resistentes que consigamos ser, nos sentimos borocoxô. E se nos falta o sol bendito da Bahia, aí é que a “coisa” pega.
Sentir-se borocoxô não é estar triste, mas sim, pelo menos no meu caso, enfarada. E aí dizem que dinheiro não traz felicidade, mas, com certeza, se eu o tivesse, estaria embarcando para a Polinésia, indo ao encontro dos amigos Starita e Francisco, meus franceses amados para, com eles, passar um tempinho nas águas do Pacífico, curtindo outras realidades em seu veleiro: refúgio seguro das mesmices e aporrinhações que somente gente empoderada, safa e dona das certezas oferece sem trégua.
Putz grila!!! Não é nada fácil envelhecer com os neurónios ainda ativos, num país de gente com complexo de vira-lata, que aplaude sucatas e cultua as sombras da caverna de Platão.
Regina Carvalho – 01.10.2025, Tubarão/SC
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