quarta-feira, 8 de outubro de 2025

Acordei cedo

...antes do dia clarear, e li um artigo que me tocou fundo por ser uma crítica sensível aos preconceitos que, mesmo disfarçados, continuam a habitar o nosso convívio.

A lucidez do professor José Alberto Siqueira Gomes, apaixonado por Carmen Miranda e pela cultura brasileira, revelou-me que o livre pensar ainda é um ato de coragem.

Enquanto o país se distrai com o eterno “Quem matou Odete Roitman?”, o verdadeiro mistério continua oculto: quem comandava a mais estrondosa Fraude no INSS? 


SER OU NÃO SER, EIS A QUESTÃO

Tenho refletido sobre o quanto somos, em regra geral, confusos. Clamamos por ética e moralidade, por segurança e paz, e, ao mesmo tempo, comportamo-nos como hipócritas, pensando e agindo de forma contrária àquilo que tanto recriminamos.

Isso manifesta-se desde os pequenos detalhes das nossas condutas cotidianas até aos atos mais impactantes, que fomentam exatamente o que declaramos estar errado na nossa sociedade, seja no nosso universo pessoal ou no contexto mundial.

Somos mestres em criar argumentos que, aos nossos olhos, justificam os nossos paradoxos, acreditando que não havia alternativa devido a esta ou àquela necessidade. Mais comum ainda é afirmarmos, em alto e bom som, que “a vida é assim” e, se todos fazem, “de que adiantaria eu não fazer"?


 


segunda-feira, 6 de outubro de 2025

 


CONSTATAÇÕES ÓBVIAS

O tempo surpreende,

com gestos suaves de mestre.

Leva-me a sorrir

não só de alegria,

mas de gratidão.

Mostra-me posturas antigas,

repetidas, cansadas,

que me roubaram a paz.

E ensina: há o que é meu,

e há o que pertence ao outro.

Já não quero mudar o mundo, 

o relógio corre,

e aceito o seu compasso.

Faço as contas

e escolho viver o que resta

com leveza,

colhendo os frutos doces da paz.

O tempo, apressado e sábio,

diz-me que tudo passa:

as dores, os sonhos,

até as minhas verdades.

Senhor do meu estar neste mundo,

ele sussurra:

discordar do tempo é desperdiçá-lo.

E eu sorrio, enfim,

por compreender o óbvio que,

tudo passa, tudo sempre passará.

Incrível!!! Sem mim...

Regina Carvalho- 6.10.2025  Tubarão SC



domingo, 5 de outubro de 2025

SOLAS DOS PÉS

Como de hábito, sempre que me sobra um tempinho nos dias ensolarados, sento-me na espreguiçadeira, deixando o sol aquecer o meu corpo enquanto leio algumas páginas do livro que escrevi e publiquei, onde narro parte das minhas emoções justamente por saber serem muito parecidas com as de outras pessoas. Mas, como são minhas, senti-me mais à vontade e honestamente qualificada para analisá-las.

Esta é a terceira vez que releio este trabalho, tentando encontrar algum exagero ou alguma camuflagem onde eu possa ter disfarçado algum sentimento ou conduta. No entanto, nada encontro além de mim mesma, sem retoques.


sexta-feira, 3 de outubro de 2025

 


SAUDADES DE MINHA ITAPARICA

Depois que cheguei nesta minha nova morada, já fiz tantas coisas, menos calçar uma sandália e vestir uma roupa leve e fresca como fiz por 23 anos em minha Itaparica, afinal, por aqui, mesmo com o dia ensolarado, o frio se mantem presente, só ignorado por quem é nativo ou já está ambientado, mas pra mim, cruz credo, acho que nunca vou me acostumar.


 


O QUE NÃO SE PODE MODIFICAR

Acordei ouvindo Fred Mercury e dentre as suas músicas, certamente Love Me Like There’s No Tomorrow ( Ama-me como se não houvesse amanhã), já que este é incerto, provavelmente explique o fato das pessoas se surpreenderem quando eu conto sem qualquer constrangimento a minha idade. Se não tomo formol, não faço academias, não ingiro mixes de vitaminas e tão pouco tenho recursos para intervenções estéticas; a explicação, creio esteja na forma em conduzir minhas emoções, já que sempre estive umbilicalmente ligada ao amor, fosse pela vida como um todo ou pelos infindáveis detalhes que esta, apresenta e que sempre me fascinaram, despertado desde sempre em mim, uma deliciosa paixão.


quinta-feira, 2 de outubro de 2025


 

Nem Melhor, Nem Pior- Apenas Diferente

Na fotografia antiga,

corpos dourados na areia de Ipanema,

sorrisos livres, leves,

sem precisar ostentar nada além

do prazer de existir.

Éramos moças de biquíni escondido,

maiô trocado às pressas,

umbigo em rebeldia,

olhares cúmplices entre amigas

e a conspiração silenciosa de uma mãe

à frente do seu tempo.

O mundo gritava “fim dos costumes”,

mas a vida ria no compasso da praia,

no balanço dos passos,

no brilho dos olhos famintos de futuro.

Havia mistério nos panos pequenos,

havia elegância na espera,

um toque roubado,

um beijo sentido,

a chama do romantismo acesa

no silêncio das preliminares.

Hoje tudo é mais rápido,

tudo se mostra,

tudo se consome.

Mas ainda carrego dentro de mim

a doçura daquele primeiro beijo,

a eternidade do primeiro amor,

e a certeza de que o ontem

não passou.

Não é melhor,

não é pior,

é apenas diferente.

 Regina Carvalho- 2.10. 2025 Tubarão SC



quarta-feira, 1 de outubro de 2025

BOROCOXÔ

Numa era de gente feliz e de bem com a vida e com tudo o mais, confessar-se borocoxô é quase um crime, no mínimo uma contravenção.

Que é isso, dona Regina? Logo a senhora, poeta de berço, humanista de coração e resiliente por opção, declarar-se de saco cheio?

Pois é… Acontece de vez em quando, com pessoas longevas como eu, que se esqueceram de morrer ou são teimosas o suficiente para permanecer nesta vida que, se por um lado é simplesmente fantástica, por outro, meu Deus, só mesmo ouvindo a guitarra de Eric Clapton num blues-rock, a fim de espantar os urubus que incansáveis sobrevoam mentes e almas em tentativas contínuas de arrastá-las para suas searas de chorumes existenciais.



 


 

BRASIL – PLANETA DE EXPIAÇÃO

Perdi o sono. Aliás, pensando melhor, já perdi mais noites nos últimos três meses em Tubarão do que nos últimos cinco anos em Itaparica.

Será pela falta dos meus pássaros, do quintal, do cheiro de maresia? Ou pelo farfalhar dos coqueiros que já não ouço mais?

Quem sabe seja a saudade dos arrepios provocados pelas brisas, quando, logo cedinho, eu abria as janelas para saudar um novo dia.

Talvez seja por não mais sentir o cheirinho de terra molhada quando chovia,  já que, por aqui, onde só há pedra e asfalto, os meus sentidos viciados estejam carentes.


Acordei cedo

...antes do dia clarear, e li um artigo que me tocou fundo por ser uma crítica sensível aos preconceitos que, mesmo disfarçados, continuam a...