segunda-feira, 23 de setembro de 2019

PONTA DE AREIA – O abandono continua.



Nas minhas idas diárias à praia, posso falar a respeito do estado deplorável não só das ruas e calçadas, como de toda a orla que se encontra em um abandono total, sem que minhas palavras sejam consideradas afrontosas, já que se baseiam em comprovações desagradáveis.
Observar e criticar o meu bairro, em hipótese alguma, objetiva qualquer insinuação maldosa de que no restante da cidade, o abandono se instalou.
Atenho-me, não só por ser o meu bairro, como pelo fato dele abrigar a maior orla de areia e praia disponível na cidade, não só para uso dos moradores e veranistas, como para turistas que superlotam a cada verão, assim como pelo fato da secretaria de turismo estar em negociações para que possamos ser um polo acolhedor de navios cruzeiros.
Por enquanto, na minha modesta opinião de moradora da cidade e do bairro, essas perspectivas são totalmente inviáveis, já que o cartão postal da Orla de Itaparica (vide Praia do Forte), jamais será capaz de absorver um número tão elevado de usuários, restando à linda Ponta de Areia, como mais uma opção de acolhimento.
Penso que, se há anos, só com o fluxo normal de visitantes nos verões, a mesma se torna um apavorante amontoado desordenado de carros, lixos e barracas em sua maioria mal equipadas em quase todos os níveis, começando por banheiros que não recebem qualquer higienização no decorrer de apenas um dia de serviço, como, então, poderá abrigar um movimento maior?
As ruas do entorno da orla, sempre esburacadas, com lixões a céu aberto e repletas de mato e poças de lama, deixam de ser opções de estacionamento, assim como de hospedagem nas inúmeras casas amplas e com quintais e que poderiam representar uma fonte de renda a seus proprietários, permanecem num semiabandono.
E aí, fico me perguntando se sonho ou se a gestão é que traçou uma linha de condutas administrativas tão surreal, que é impossível a um cidadão compreender a lógica das ações por ela praticada. Afinal, como pensar e buscar grande em termos turísticos, sem que a casa esteja minimamente pronta para acolher a demanda?
Por acaso, acreditam que o miolinho do centro histórico será capaz de atender as exigências de grupos organizados?
O espantoso é que vieram técnicos para fazer levantamentos! Será que de verdade, acharam possibilidades reais para que navios aqui desembarcassem milhares de turistas?
Confesso que é confuso de se entender o diálogo que existe entre as secretarias e seus propósitos e muito menos delas com os órgãos externos. Mas tudo bem, sou apenas uma observadora e palpiteira, senão bocuda, como já me chamou uma certa secretária. Afinal, são eles os especialistas, são eles que conhecem a cidade e as necessidades dela e de seu povo.
Não é mesmo?
Todavia, na insistência de minha mente que não cansa de questionar os absurdos, como farão as mesmas com um alto fluxo de pessoas com suas necessidades, no próximo verão, sem sequer mencionar turistas extras, se agora, sequer conseguimos andar sem que o lixo, pedras e entulhos nas areias e calçadas nos afrontem a cada metro quadrado percorrido e sem que os acessos estejam respeitosamente pelo menos limpos, já que sequer sonhamos com calçamentos ou asfalto.
Como pensar em turismo sem que o povo da cidade esteja pronto emocionalmente para recebe-los?
Eu ando pelas ruas e ouço as pessoas e posso garantir que pelo menos por aqui, elas não estão nadinha satisfeitas e que, se quando o asfalto chegar, não houver também uma séria intervenção no bairro como um todo, o caldeirão do Diabo estará em pleno funcionamento, pois não se veste um vestido, deixando-se as pares íntimas a descoberto, mesmo sendo verão e o manequim esteja eufórico.
Entendem quando falo do absurdo de se discutir a vinda ou não da Ponte, de navios de cruzeiro e do escambau, se sequer somos capazes de exigir de nossos gestores um pouco de dignidade no nosso ir e vir interno, como retorno dos impostos pagos?
O tempo do pó de ouro e das obrinhas eleitoreiras já passou, agora o povo quer mais, muito mais.
Para a bocuda aqui, não há desculpa para a permanência de ruas melancolicamente sujas e abandonadas como a maioria que das ruas de minha adorável Ponta de Areia, retiro dos pássaros, da paz e da ainda exuberante natureza.


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