Nas minhas idas diárias à praia, posso falar a respeito do
estado deplorável não só das ruas e calçadas, como de toda a orla que se
encontra em um abandono total, sem que minhas palavras sejam consideradas
afrontosas, já que se baseiam em comprovações desagradáveis.
Observar e criticar o meu bairro, em hipótese alguma,
objetiva qualquer insinuação maldosa de que no restante da cidade, o abandono
se instalou.
Atenho-me, não só por ser o meu bairro, como pelo fato dele
abrigar a maior orla de areia e praia disponível na cidade, não só para uso dos
moradores e veranistas, como para turistas que superlotam a cada verão, assim
como pelo fato da secretaria de turismo estar em negociações para que possamos
ser um polo acolhedor de navios cruzeiros.
Por enquanto, na minha modesta opinião de moradora da cidade
e do bairro, essas perspectivas são totalmente inviáveis, já que o cartão postal
da Orla de Itaparica (vide Praia do Forte), jamais será capaz de absorver um
número tão elevado de usuários, restando à linda Ponta de Areia, como mais uma
opção de acolhimento.
Penso que, se há anos, só com o fluxo normal de visitantes
nos verões, a mesma se torna um apavorante amontoado desordenado de carros,
lixos e barracas em sua maioria mal equipadas em quase todos os níveis,
começando por banheiros que não recebem qualquer higienização no decorrer de
apenas um dia de serviço, como, então, poderá abrigar um movimento maior?
As ruas do entorno da orla, sempre esburacadas, com lixões a
céu aberto e repletas de mato e poças de lama, deixam de ser opções de
estacionamento, assim como de hospedagem nas inúmeras casas amplas e com
quintais e que poderiam representar uma fonte de renda a seus proprietários,
permanecem num semiabandono.
E aí, fico me perguntando se sonho ou se a gestão é que
traçou uma linha de condutas administrativas tão surreal, que é impossível a um
cidadão compreender a lógica das ações por ela praticada. Afinal, como pensar e
buscar grande em termos turísticos, sem que a casa esteja minimamente pronta
para acolher a demanda?
Por acaso, acreditam que o miolinho do centro histórico será
capaz de atender as exigências de grupos organizados?
O espantoso é que vieram técnicos para fazer levantamentos!
Será que de verdade, acharam possibilidades reais para que navios aqui
desembarcassem milhares de turistas?
Confesso que é confuso de se entender o diálogo que existe
entre as secretarias e seus propósitos e muito menos delas com os órgãos externos.
Mas tudo bem, sou apenas uma observadora e palpiteira, senão bocuda, como já me
chamou uma certa secretária. Afinal, são eles os especialistas, são eles que
conhecem a cidade e as necessidades dela e de seu povo.
Não é mesmo?
Todavia, na insistência de minha mente que não cansa de
questionar os absurdos, como farão as mesmas com um alto fluxo de pessoas com
suas necessidades, no próximo verão, sem sequer mencionar turistas extras, se
agora, sequer conseguimos andar sem que o lixo, pedras e entulhos nas areias e
calçadas nos afrontem a cada metro quadrado percorrido e sem que os acessos
estejam respeitosamente pelo menos limpos, já que sequer sonhamos com
calçamentos ou asfalto.
Como pensar em turismo sem que o povo da cidade esteja
pronto emocionalmente para recebe-los?
Eu ando pelas ruas e ouço as pessoas e posso garantir que
pelo menos por aqui, elas não estão nadinha satisfeitas e que, se quando o
asfalto chegar, não houver também uma séria intervenção no bairro como um todo,
o caldeirão do Diabo estará em pleno funcionamento, pois não se veste um
vestido, deixando-se as pares íntimas a descoberto, mesmo sendo verão e o
manequim esteja eufórico.
Entendem quando falo do absurdo de se discutir a vinda ou
não da Ponte, de navios de cruzeiro e do escambau, se sequer somos capazes de exigir
de nossos gestores um pouco de dignidade no nosso ir e vir interno, como
retorno dos impostos pagos?
O tempo do pó de ouro e das obrinhas eleitoreiras já passou,
agora o povo quer mais, muito mais.
Para a bocuda aqui, não há desculpa para a permanência de
ruas melancolicamente sujas e abandonadas como a maioria que das ruas de minha
adorável Ponta de Areia, retiro dos pássaros, da paz e da ainda exuberante
natureza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário