domingo, 4 de julho de 2010

A QUASE TODOS NÓS

Confesso que esta chuvinha intermitente, que cria lama nas ruas, goteira nas casas, que nos impede de fazer caminhadas diárias, que prejudica o comércio, porque, afinal, quem quer sair de casa com este tempo horroroso?
Nesta semana, pelo menos aqui em Ponta de Areia, fez frio, a princípio gostoso por ser um clima diferente do habitual, mas que agora já começa a aborrecer, levando-me a desejar de todo o coração que aquele bendito sol que nos aquece por todo o tempo volte e rapidinho, pois já estou de saco cheio.
Nossa, ultimamente ando muito desbocada, por que será?
Volto ao passado e me lembro de meu pai que dizia ter adquirido direitos extras depois de certa idade.
Será que o mesmo está acontecendo comigo, pois reconheço que me sinto mais livre até para reconhecer que posso ousar mais em minhas opiniões a respeito de qualquer coisa, que antes eu ou me calava ou simplesmente colocava limites, pois em todas as ocasiões em que me dei ao direito de ser mais ousada, novamente confesso que dancei, neste ou naquele aspecto.
Afinal de contas o que a chuva, o frio e a lama tem a haver com o reconhecimento de minhas observações pessoais mais ousadas?
Bem... acho que tudo, porque se me dou ao direito de questionar a presença de um tempo alagadiço, no mínimo devo reconhecer que também posso desabafar em relação ao descaso público com o qual sou obrigada a conviver sem qualquer esperança de possíveis mudanças, admitindo, mesmo a contragosto, que este será o meu destino e, é claro, de todos os meus vizinhos, enquanto juízes, desembargadores e ministros do supremo continuarem por razões desconhecidas a favorecer este mandato cruel que nos assola desde janeiro de 2009.
Mandato este que nem deveria ter acontecido.
Vez por outra, como ontem, assisto pelos jornais televisivos decisões judiciais de cassação deste ou daquele político e me coloco em alerta para ver se milagrosamente ouço o nome do daqui, e logo esmoreço minhas expectativas, substituindo-as por um profundo desalento, em um misto de tristeza e revolta por ver que Itaparica e seu povo nada representam além mar.
Que somos tão insignificantes que os poderes máximos nos esqueceram, deixando-nos à mercê do desvario de poucos e tão somente lembrados pela violência urbana, que reconhecidamente só cresce a cada dia.
E pensar que estamos tão próximos do poder estadual!
Que em discursos, nossa terra é cantada em versos e prosa.
Que a bravura de nossos antepassados jamais é esquecida na eloquência política.
Que nas possíveis negociatas de bastidores, sempre tem aqueles que se lembram de Itaparica.
Que em nossos cofres públicos, mesmo sendo parcos os recursos, não faltam sócios e interessados.
Que coisa, heim!
Enquanto isso, a lama fica mais espessa, as invasões de propriedade pública e privada é a cada dia mais visada e apropriada, os buracos se tornam crateras, montanhas de terra são dizimadas pelas ações de tratores desgovernados e o silêncio daqueles que deveriam ser amigos e parceiros desta linda cidade permanece, como se cegos e surdos todos tivessem se tornado em uma cumplicidade prá lá de dolorosa, que faz gente como eu curvar-se diante da inpotência de se ver sozinha frente ao que enxerga e ouve de absurdos absolutamente invisíveis à consciência dos demais.
Fazer então o quê, além de deixar escoar a dor do silêncio a cada dia mais submisso, mais comprometedor, mais conivente.
Onde estão os políticos eleitos para nos defender?
Onde estão os já conhecidos futuros candidatos a mobilizar o povo em uma marcha da busca de respeito ao cidadão?
Onde estão os sindicatos e associações, líderes comunitários, vereadores e importantes usuários dos Ibopes de nossas mazelas nas redes das rádios e das televisões?
O silêncio é total, fazendo-me lembrar dos tempos cruciais da ditadura militar, onde ainda era possível ter-se conhecimento de uma resistência ideológica, que nos tempos atuais, pelo menos pelas bandas de cá, sequer é cogitada.
Que poder é este?
Que democracia é esta?
Que respeito, poder-se-á ter?
Em qual esperança haveremos de nos agarrar, se desolados, comprados ou associados nos sentimos estar?
A chuva não para, e a minha desesperança também.
E não me venham dizer que falo filosoficamente, por que, afinal, o caos é visível e a omissão sufocante à quase todos nós.

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