Falar ou escrever sobre os jovens, pode até ser um pouco fácil, porque afinal além de já termos sido, ainda convivemos por todo tempo interagindo com eles de uma forma ou de outra.
No entanto, falar ou escrever para eles é complicado, porque precisamos encontrar o tom necessário à cada palavra, para que, no mínimo, sejamos tolerados e, com muita sorte, nossas ideias e avaliações sejam assimiladas, principalmente nos tempos atuais, onde a instantaneidade da comunicação nos empurra a todos a uma forma menos prolixa, mais objetiva, o que não é ruim, mas que abrevia em muitos momentos palavras e expressões chaves que em tempos passados despertavam emoções que aos poucos somos obrigados a admitir estarem desaparecendo do convívio diário de todos nós.
Com a ausência dessas emoções, também foi desaparecendo a afetividade interativa, tão necessária à convivência em qualquer instância da vivência humana em sociedade.
O reflexo desta carência pode ser constatada a qualquer instante, acentuadamente nas escolas e nos lares, independentemente do grau socioeconômico a ser observado.
Sem afetividade, não há limites em relação aos demais, pois cre-se tão somente nas próprias necessidades, desconsiderando-se tudo o mais.
Assim como, só eu quero e posso, ou só eu tenho ou posso ter.
Esta é uma postura comum nos relacionamentos, na medida em que exclusivistamente desconsidera-se os direitos alheios, sem qualquer conotação de se estar sendo arbitrariamente egoista, pois não reside a consciência de se estar agindo de forma afrontosa e, portanto, inadequada.
É preciso, desse modo, antes de qualquer análise condenatória, constatar-se que os jovens vém sendo induzidos desde a mais tenra idade a não sentir as emoções que nós adultos mais adiante cobramos deles a cada instante, em qualquer lugar, onde com eles tenhamos de conviver, esquecendo-nos que eles crescem e se tornam adultos e que repassam os mesmos valores recebidos, criando assim um ciclo ininterrupto e sempre mais aperfeiçoado de posturas e emoções totalmente desvinculadas da afetividade que aproxima as pessoas e as fazem mais conscientes de sua responsabilidade como um ser participativo.
Palestrar para jovens, nos momentos atuais, é antes de tudo não acusá-los disto ou daquilo, mas procurar despertar neles o melhor que podem extrair de si mesmos, inclusive, e principalmente, levando-os a perceber que estão deixando de egoisticamente usufruir inúmeras vantagens ao deixar que a arrogância ou a banalidade de suas posturas diárias roubem deles o direito à espontaneidade autenticamente sadia, que, certamente, poderá ser uma aliada à sua própria criatividade em extrair dos meios que a tecnologia e a ciência em geral tem oferecido.
Tratar nos dias de hoje com os jovens é, antes de tudo, faze-los compreender que seus desejos são legítimos, assim como suas necessidades, que atualmente se encontram sufocadas pelo poder de um querer desmedido e inconsequente.
Portanto, tudo ou quase tudo pode ser vivenciado, se houver o discernimento entre o querer e o dever, pois nem tudo que se deseja ter se coaduna com o direito, primeiro em constatar-se que será ou não uma aquisição ideal.
Essa avaliação só poderá ser feita por um jovem se a ele for oferecido os meios racionais e amorosos em perceber que o seu direito maior é justo amar-se incondicionalmente e, para tanto, cuidar-se, proteger-se, é fundamental.
Esse é o egoismo saudável que se deve oferecer a uma criança, exatamente porque irá crescer buscando sempre uma auto-preservação extremamente amorosa aos demais, no que se inclui a natureza, pois compreenderá por todo o tempo que quanto melhor estiver ao seu redor, mais protegido se encontrará.
E aí, ser franco e verdadeiro, sem máscaras camuflativas, mostrando a ele as duas faces de todos os atrativos sistêmicos, deixando-o com o direito de optar pelo que melhor lhe convier, será sempre o caminho mais seguro para extrair deste jovem o melhor que certamente ele representa.
Não adianta condenar o uso de drogas como se fosse ruim. É preciso, sim, alertá-los para o depois, que ele mesmo pode constatar, pois certamente pode observar através de amigos ou até mesmo de um vizinho, ou um ídolo, nas lástimas sociais que se transformaram.
Quanto aos estudos e a escola, hipocrisia é afirmar-se ser maravilhoso acordar às seis horas da manhã ou deixar um prazer para frequentá-la. Ideal é mostrar a escola como meio de escalada e conquista de realização pessoal, inclusive para mais adiante, ela enquanto adulta poder optar em ser o que bem entender, sem a dependência dos demais.
Além disto, ir à escola deve se tornar um meio de sociabilidade e segurança pessoal, onde é possível ser autenticamente jovem, tendo como proteção educadores compromissados a antes de tudo desenvolver mentes saudáveis.
E este possível desenvolvimento, não ocorrerá jamais se não houver um espírito de troca de experiências, onde o educador se compromete a buscar o melhor que seus alunos possam lhe oferecer. Isto não significa que se desvincule a hierarquia necessá ria,muito pelo contrário, acredito que através da confiança que se estabelece entre ambos é que se chega ao denominador comum de uma interação participativa, onde ambos se sentem compensados por todo o tempo.
Resgatada a afetividade e, consequentemente, o respeito por si mesmo, o jovem saberá melhor lidar com assuntos que hoje representam a sua falência emocional, como o uso abusivo de drogas, distonia nos relacionamentos com os pais e profesoores, inconsequência nos relacionamentos amorosos e em tudo o mais que faz parte do cotidiano dele.
Enfim, falar ou escrever aos jovens antes de tudo é um ato amoroso, só possível a aqueles que verdadeiramente se despirem de todo e qualquer conceito pré-concebido, acreditando por todo o tempo que um jovem por si só é vida plena, precisando tão somente de margens confiáveis para ampará-lo em seu início de caminhada.
sábado, 17 de julho de 2010
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