terça-feira, 27 de julho de 2010

PRIMEIRO PASSO

Permaneço diante do computador querendo escrever para tentar entender sobre o atraso histórico de nosso país em relação a outros não tão abastecidos de riquezas territoriais ou também beneficiados por um clima tão propício a uma maior diversidade agrícola.
Enquanto isto, penso nas cidades que conheci em viagens ou porque morei, e também em nenhuma delas posso traçar qualquer parâmetro com a Ilha de Itaparica, seja no tocante ao conjunto lúdico, energético e prazeroso, seja na tristeza da constatação do abandono, miséria, violência crescente, desleixo público.
Penso que a inércia que o escravagismo desenvolveu nas posturas tanto dos senhores quanto dos escravos, talvez seja a base estrutural de um comportamento sistêmico da época que se infiltrou nas emoções, moldando-as a uma postura desconsiderativa a valores inerentes a um desenvolvimento sustentável, onde se visasse a terra como um bem de raiz e não tão somente como um bem monetário, enquanto os escravos em suas condições precárias de subsistência sequer desenvolviam qualquer operação mental ou amorosa de apêgo e respeito a terra, ao contrário, até mesmo odiando-a, por representar o seu cárcere maior.
Lembro que no final da década de 70, uma leva de imigrantes japoneses chegou ao Brasil, mais precisamente em algumas cidades do interior de Minas Gerais, onde o governo havia desapropriado terras dissolutas.
Fui testemunha da força de trabalho, perseverança, disciplina, criatividade e tudo o mais que até então não havia visto em qualquer fazendeiro que conheci e convivi.
As quatro e meia da manhã, de inverno a inverno, se podia ouvir o barulho dos tratores conduzidos pelas famílias em trabalho de constante mutirão.
Em apenas cinco anos, aquelas cidades simplesmente explodiram em desenvolvimento sem que se ouvisse um só som que não fosse dos tratores e caminhões que diariamente abasteciam os Ceasas mais próximos, enquanto nos redutos das cidades escolas foram sendo reformadas, comércio revitalizado, novas moradias foram tomando o lugar de casebres perdidos em ravenas, ruas asfaltadas ou calçadas, e assim como a estrutura física foi se transformando, também a mentalidade, que de passiva foi se adaptando a novos e estimulantes valores sociais, onde a educação se tornou a chave mestra que passou a abrir uma visão progressista e respeitosa da terra e das pessoas em um todo social.
E apesar dos imigrantes trazerem consigo e não abrirem mão de suas culturas, estimularam o resgate das culturas locais, unindo-as em um único cordão de elos progressistas, estabilizadores e acima de tudo respeitosos.
Esta preguiça participativa que nos domina através de uma herança genética que vem lá do tempo do descobrimento, persistiu e nos aprisiona até os dias atuais, em maior ou menor intensidade de acordo com a região em que nos encontremos em relação a influência imigratória.
A exemplo disso está o sul do país, com a presença de colonos italianos e alemães,
com um desenvolvimento expressivo educacional e, portanto, cidadão, onde há respeito pela propriedade como um bem produtivo, caminho seguro que leva a um desenvolvimento
sustentável.
Outro exemplo é o estado de São Paulo, com influência direta das colônias japonesas e italianas,
Voltando a Itaparica, polo de concentração de resistência a favor da Idependência da Bahia da ameaça de domínio português em tempos passados, foi sendo deixada sem o devido amparo social, ficando seu povo restrito à indiferença das famílias endinheiradas que por aqui aportavam nas férias de final de ano, desfrutando das delícias naturais e utilizando-se de uma mão de obra barata e sem qualificação, criando assim um ranço separatista, bem próximo do escravagismo.
Unindo-se a este, outros fatores foram e são determinantes ao otracismo constatável, dentre eles, a chegada súbita de meios de comunicação a um povo absolutamente despreparado para assimilá-los, assim como um desenvolvimento expressivo da cidade de Salvador nos últimos 35 anos, que pela proximidade trouxe valores posturais totalmente destoantes da realidade sistêmica deste povo que passou a tentar acompanhar, obviamente, em sua maioria, fracassando e assim desenvolvendo um misto de frustração e derrota, portanto, abaixando a sua auto-estima a um patamar de defesa cruel que passou a ser a indiferença aos assuntos de grupo, privilegiando tão somente o seu ganho pessoal, que por falta de visão de todos os níveis foi também ficando rasteiro, na perspectiva de seus parâmetros existenciais.
Alguns poucos, ao contrário, absorveram rapidamente o sentido imediatista da conquista, utilizando-se exatamente deste atavismo que os cercava e passaram a explorá-los sob a capa de um paternalismo prá lá de cruel, que ao longo de décadas tem impedido qualquer avanço social, abusando sistemicamente da ignorância quanto a seus verdadeiros direitos como cidadãos, mas principalmente como seres humanos, carentes e absolutamente desconhecedores de qualquer visão interativa.
Dói-me profundamente constatar este crime que se estende agora como uma teia forte retendo movimentos, mas atraindo um exercito de omissos.
Entretanto, é preciso não desistir e ter esperanças, e esta vem com o nome de ASSOCIAÇÃO COMERCIAL DE ITAPARICA que está congregando os empresários, em sua maioria originários de outras cidades e até paises, para juntos lutarem por uma Itaparica mais humana e respeitosa a seu povo.
Cansados de esperarem que os políticos e candidatos a políticos, líderes comunitários, se unissem em uma só voz no empenho de não permitir os abusos e destruições que hoje são afrontosos, unem-se desde a sua fundação no ano de 2009 para, com respeito ao povo Itaparicano,lutar por uma cidade mais humana e desenvolvida.
Na próxima sexta-feira, acontecerá a primeira de muitas ações mobilizadoras previstas, envolvendo a midia estadual que certamente dará voz e visibilidade
a esquecida e abandonada Itaparica.
PS - A manifestação aconteceu com absoluto sucesso, com objetivo plenamente atendido.

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